O jornalista Caio Túlio Costa participou do painel do Digital Age 2.0 (no Centro de Convenções do Sheraton WTC, em São Paulo) em 27 de agosto de 2008 – das 16 às 17h. Evento organizado pelo IDG Now! e intitulado “A crise da mídia tradicional. Quem vai publicar as notícias que vão alimentar a conversa?” Participaram: Ricardo Gandour, de O Estado de S.Paulo; Mariza Tavares, da CBN; Hélio Gurovitz, da Revista Época; Caio Túlio Costa, jornalista, professor e consultor de novas mídias. Moderadora: Profa. Beth Saad, da ECA/USP.
Publicado no IDG Now!, por Clayton Melo, às 19h17 em 27 de agosto de 2009:
Antagonismo entre “mídia clássica” e meio digital apimenta debate
Profissionais de veículos discutem transformações no jornalismo
O sistema tradicional de mídia trabalha com a informação empacotada e distribuída para canais muito bem definidos – jornais, revistas, TVs e rádio. No ambiente digital, especialmente em razão das redes sociais – com seu fluxo infinito de dados e a interação de todos com todos -, o contexto da comunicação é modificado brutalmente.
O resultado disso é que as empresas de mídias se veem diante de questionamentos cruciais. São eles: qual a melhor forma de apresentar o conteúdo nos canais digitais, como trabalhar com a informação em fluxo e – eis a pergunta que tira o sono dos executivos de mídia- como gerar receita no meio digital de modo a sustentar os negócios.
“A mídia tradicional sempre lidou com a informação formatada e um ritmo de informação sistematizado. Esse modelo mudou com as redes sociais”, afirmou a professora da USP Beth Saad durante o painel “ A crise da mídia tradicional. Quem vai publicar as notícias que vão alimentar a conversa”.
“O modelo baseado na geração de fluxo – o digital – não é o mesmo daquele que escora no tráfego e na audiência, que é o da mídia tradicional. Por enquanto, esses dois sistemas devem conviver no mercado”, completa. “Mas é preciso saber quem vai pagar a conta pela produção de conteúdo daqui para frente. Além disso, as companhias de mídia devem entender como funcionam as redes sociais e o que fazer com elas”, diz Beth.
Se as perguntas são inúmeras, as respostas são escassas, na avaliação predominante dos participantes do painel, que contou com a participação de Mariza Tavares, da CBN, Hélio Gurovitz, revista Época e Ricardo Gandour, de O Estado de S. Paulo.
Mariza Tavares destacou o fim das fronteiras para o rádio na era digital. “Com a digitalização, ampliamos nossa audiência, pois podemos ter ouvintes também na internet.”
O ponto de partida Gandour foi negar “o suposto antagonismo entre nova e velha mídia”. “Não acredito na dúvida contida na pergunta do painel”, afirmou, referindo-se à indagação “Quem vai publicar as notícias que vão alimentar a conversa?”. “Essa questão dá a idéia de que a função da mídia tradicional, daqui para frente, será alimentar as novas tecnologias, que seriam vistas como espaço de relacionamento.
Gurovitz seguiu a trilha aberta por Gandour. “Não gosto dessa oposição entre nova e velha mídia. Parece coisa de desenho animado. Trata-se de uma avaliação pobre”, disse. “Devemos observar que esta não é a primeira mudança brutal na história da mídia. Talvez a mudança mais significativa ainda seja a dos tipos móveis”, reforçou.
O debate tornou-se apimentado a partir do depoimento de Caio Túlio Costa, professor universitário e consultor de novas mídias, que discordou de Gandour e Gurovitz. “Há cerca de 500 anos nossa indústria não via uma mudança dessa profundidade. Trata-se de uma mudança estrutural e de qualidade. Antes a comunicação era unilateral. Hoje, multilateral”, disse, arrancando aplausos da platéia.
A resposta de Gandour veio seguida de uma provocação. “Eu e o Caio Tulio somos amigos há 20 anos. Por isso posso dizer que ele, como ex-jornalista, alimenta o falso antagonismo entre velha e nova mídia. E isso é perigoso”.
Sem perder o bom humor, Costa reafirmou sua posição e retrucou. “Concorco com quase tudo que o Gandour diz”, referindo-se à defesa da produção jornalística de qualidade, feita pelo colega durante o painel. “Só não concordo quando ele me chama de ex-jornalista”, ironizou. Desta vez arrancou não só aplausos, mas também umas boas risadas da plateia.
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Noticia do Blue Bus – 27/08/09:
Digital Age 2.0 | Eles querem saber quem vai produzir | nota do Marinho19:20 Quem vai produzir as notícias que leremos? O painel sobre a relaçao entre os grupos editoriais tradicionais e os digitais nao trouxe novidades – os representantes do Estadao, da rádio CBN e da revista Época defenderam a importância dos meios analógicos e Caio Túlio Costa, no papel de representante do mundo virtual , tratou de enfatizar que estamos em meio a uma transformaçao que vai alterar dramaticamente o modo como a informaçao será consumida no futuro. 27/08 Luiz Alberto Marinho
Ricardo Gandour, do Estado, depois de tentar brincar chamando Caio Túlio de ex-jornalista e dizendo que “esse discurso do Caio sempre faz sucesso”, preferiu contemporizar, ao garantir que nao deve haver antagonismo entre as novas e velhas mídias. Já Helio Gurovitz, da Época, disse que a crise dos meios impressos é conseqüência da ausência das barreiras econômicas a entrada de novos concorrentes. No passado, um novo jornal ou revista precisava de dinheiro para imprimir e distribuir seus exemplares, o que nao é necessário no mundo virtual. Gurovitz garantiu que todos os modelos de negócio das empresas estariam baseadas em barreiras de entrada – sejam tecnológicas, econômicas ou legais. Outra queixa de Gurovitz foi contra a quebra de direitos autorais, que permite a disseminaçao das notícias dos grandes veículos em blogs e redes sociais. 27/08 Luiz Alberto Marinho
Já no final do debate, o assunto da cobrança do conteúdo jornalístico veio a tona. Mariza Tavares, da CBN, afirmou que o bom jornalismo custa caro e que por isso mesmo deveria ser remunerado pelo consumidor de informaçao. Caio Túlio discordou, dizendo que isso seria reproduzir o modelo tradicional no mundo digital… o que nao daria certo. Todas do Marinho no Blue Bus. E veja o blog. 27/08 Luiz Alberto Marinho