As novas tecnologias nas matrizes curriculares em jornalismo

Painel no 4º Encontro de Professores de Jornalismo promovido pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero em São Paulo. 17 de outubro de 2008.  Participação dos professores Caio Túlio Costa (Cásper), Daniela Ramos (Cásper),  Marcelo Lopes (Mackenzie) e Carlos Costa (mediador).

Roteiro da apresentação de Caio Túlio Costa

1.     Breve digressão sobre necessidade de ensino humanista e a separação do curso técnico.

2.     Incursão na questão do ofício – jornalismo é um ofício.

3.     Detalhar necessidades

3.1.                    Exemplo da redação do New York Times totalmente multimídia – prédio multimídia, redações integradas arquitetônica e conceitualmente.

3.2.                    Dar exemplo das empresas de mídia que não souberam ainda como trabalhar as novas tecnologias (Time Warner + Abril); das que ainda estão buscando integração (Abril, Globo) e das que souberam integrar (News Corp., Folha)

3.3.                    Dar exemplo das empresas de mídia puras em novas tecnologias: Google, MSN, Yahoo.

4.     Matrizes curriculares (partindo do pressuposto de que o estudante saiba português e inglês):

4.1.                    Curso sobre modernismo e pós-modernismo – que explique:

4.1.1. individualismo (Bauman, Maffesoli, Guattari-Deleuze, Jameson);

4.1.2. desagregação da esfera pública (Habermas, Ianni);

4.1.3. onipresença da mídia (Habermas, Debord, Ianni, Negroponte, Castells);

4.1.4. emergência da interação (Gilmore, Jenkins,  Meyer);

4.1.5. superação da comunicação unidirecional (Dan Gillmor, Jenkins);

4.2.                    Curso sobre história das novas mídias: arpanet, BBS, internet comercial; internet no celular, pervasividade (Katie Hafner, Mathew Lion, Noah Wardrip-Fruim, Nick Montfort, Bagdkian, George Gilder, Yochai Benkler);

4.3.                    Curso de história e realidade das redes sociais; importância dessa mídia na criação de conteúdo espontâneo e de conteúdo cidadão (Gillmor, Spyer);

4.4.                    Curso sobre a virada lingüística, a imagem como mercadoria, sociedade do espetáculo (Bakhtin, Wittgenstein, Adorno/Horkheimer, Debord, Deleuze-Guattari);

4.5.                    Curso de economia da nova mídia versus a economia da velha mídia (Benkler, Stiglitz):

4.5.1. importância da questão da assimetria na comunicação (Stiglitz);

4.5.2. importância do mercado de telecomunicações para a mídia digital (idem);

4.5.3. importância econômica da convergência (Jenkins);

4.5.4.  impacto da nova mídia no negócio tradicional da comunicação (Costa);

4.5.5. Modelos de negócio da nova mídia: Publicidade (banners + sponsor links), e-commerce, assinaturas, SVAs;

4.6.                    Curso técnico sobre jornalismo on-line. Capacitação para trabalho multitarefa: texto, áudio, foto e vídeo;

4.7.                    Curso técnico sobre design, usabilidade e hierarquia de informação em diferentes monitores (computador, plasma, telas grandes) e microtelas (celulares, palms, smartphones);

4.8.                    Curso técnico sobre data base, data base marketing e a importância da indexação e da taxonomia (termo vem da biologia, é a ciência que lida com a descrição, identificação e classificação dos organismos);

4.9.                    Curso técnico sobre SEO – search engine optmization, ferramenta indispensável para a visibilidade do jornalismo online e geração de audiência espontânea;

4.10.               Curso técnico sobre SEM – search engine marketing, ferramenta indispensável para a geração de audiência não espontânea.

4.11.               Ética na nova mídia (Costa)

4.12.               Usar BLOG como ferramenta de laboratório multimídia multidisciplinar para acompanhamento permanente durante todo o curso.

Bibliografia

ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1985.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da comunicação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BENKLER, Yochai. The wealth of networks. How social production transforms markets and freedom. New Haven/London: Yale University Press, 2006.

BAUMAN, Zygmunt. Ética pós-moderna. Tradução de João Rezende Costa. São Paulo: Paulus, 1997.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

COSTA, Caio Túlio. Moral Provisória – Ética e jornalismo: da gênese à nova mídia. Tese de doutorado. ECA/USP.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2002.

DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia. 5 volumes. São Paulo: Editora 34, 2007.

GILDER, George. A vida após a televisão. Tradução de Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

GILLMOR, Dan. We the media – grassroots journalism by the people, for the people. Sebastopol: O’Reilly, 2006.

HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública. Tradução de Flávio R. Kothe. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

IANNI, Otavio. Enigmas da modernidade do mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

JAMESON, Frederic. Postmodernism, or, The cultural logic of late capitalism (post-contemporary interventions). Durham, EUA: Duke University Press, 1991.

MAFFESOLI, Michel. Notas sobre a pós-modernidade – o lugar faz o elo. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Atlântica, 2004.

MEYER, Philip. The vanishing newspaper: saving journalism in the information age. Columbia (EUA): University of Missouri Press, 2004.

SPYER, Juliano. Conectado – o que a internet fez com você e o que você pode fazer com ela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.

STIGLITZ, Joseph E. “Information and the change in the paradigm in economics”. Prize Lecture, in www2.gsb.columbia.edu/faculty/jstiglitz/. 2001.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cultural, Coleção Os Pensadores, 1979.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus logico-philosophicus. Tradução de Luiz Henrique Lopes dos Santos. São Paulo: Edusp, 2001.

Resumo da apresentação de Caio Túlio Costa

Texto do professor Carlos Costa, mediador. Este resumo é parte de artigo, de autoria de Carlos Costa, “Novas tecnologias e o ensino de jornalismo”, publicado na revista Líbero número 22 com data de dezembro de 2008:

O terceiro palestrante, Caio Túlio Costa, diretor presidente do iG e professor de Ética Jornalística da Cásper, fez sugestões de disciplinas para uma grade curricular em harmonia com o que as redações do mundo exigem de seus profissionais. “O mundo nos atropelou, e o próprio mercado cria maneiras de suprir o despreparo dos jornalistas”, afirmou. Após realizar uma breve digressão sobre a necessidade de ensino humanista e a separação do curso técnico, conceituando a questão do ofício – “Jornalismo é um ofício” –, ele passou a detalhar as necessidades. Citou o exemplo da redação do New York Times, totalmente multimídia – com prédio multimídia e redações integradas arquitetônica e conceitualmente. Deu o exemplo das empresas que não souberam ainda como trabalhar as novas tecnologias (Time Warner e Abril), das que ainda estão buscando integração (Abril, Globo) e das que souberam integrar (News Corp., Folha). Depois, falou das empresas de mídia puras em novas tecnologias, como Google, MSN, Yahoo.

Feita essa panorâmica, entrou na discussão das matrizes curriculares (partindo do pressuposto de que o estudante saiba português e inglês). Caio Túlio pensa numa grade com um curso sobre modernismo e pós-modernismo – que explique o individualismo (Bauman, Maffesoli, Guattari-Deleuze, Jameson) e que aborde a desagregação da esfera pública e a onipresença da mídia (Habermas, Debord, Ianni, Negroponte, Castells), a emergência da interação (Gilmore, Jenkins, Meyer) e a superação da comunicação unidirecional (Dan Gillmor, Jenkins).

Numa segunda vertente, o professor desenhou um curso sobre a história das novas mídias (baseado em autores como Katie Hafner, Mathew Lion, Noah Wardrip-Fruim, Nick Montfort, George Gilder e Yochai Benkler), história e realidade das redes sociais e importância dessa mídia na criação de conteúdo espontâneo e de conteúdo cidadão (Gillmor, Spyer).

A terceira vertente seria um curso sobre a virada lingüística, a imagem como mercadoria, sociedade do espetáculo (Bakhtin, Wittgenstein, Adorno/Horkheimer, Debord, Deleuze-Guattari). Um outro curso de economia da nova mídia versus a economia da velha mídia (Benkler, Stiglitz) abordaria a importância da questão da assimetria na comunicação, a importância do mercado de telecomunicações para a mídia digital (Stiglitz) e a importância econômica da convergência (Jenkins), além do impacto da nova mídia no negócio tradicional da comunicação (Costa). A abordagem econômica seria completada com um curso de modelos de negócio da nova mídia: publicidade (banners + sponsorlinks), e-commerce, assinaturas, SVAs (serviços de valor adicionado).

A quarta vertente seria montada com cursos técnicos: a) sobre jornalismo on-line, com capacitação para trabalho multitarefa: texto, áudio, foto e vídeo; b) sobre design, usabilidade e hierarquia de informação em diferentes monitores (computador, plasma, telas grandes) e microtelas (celulares, palms, smartphones); c) database, database marketing e a importância da indexação e da taxonomia (termo vem da biologia, é a ciência que lida com a descrição, identificação identificação e classificação dos organismos); d) SEO (Search Engine Optmization, ferramenta indispensável para a visibilidade do jornalismo online e geração de audiência espontânea) e SEM (Search Engine Marketing, ferramenta indispensável para a geração de  audiência não espontânea).

A proposta finaliza com um curso de ética na nova mídia e com a  recomendação do uso do blog como ferramenta de laboratório multimídia multidisciplinar.

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