Visita ao prédio do jornal revela nova face da empresa
Conheci, em Nova York, as novas instalações do mais respeitável representante da velha mídia, The New York Times. Curiosidade: Times Square, talvez o cruzamento mais conhecido do mundo, oito em cada dez visitantes de Nova York passam por ali, se chamava Long Acre Square até 1904. O nome mudou quando um jornal se instalou no número 229 da rua 43, lado oeste, o New York Times. Daí para frente o lugar passou a se chamar Times Square.
Mas o mundo também mudou e até Times Square se renovou, ficou elétrica. E os jornais começaram a perder leitores.
Então o velho jornal decidiu se renovar.
Primeiro passo: vendeu o prédio da rua 43 e botou pra fora todos os móveis clássicos que havia por lá. Decidiu ser moderno em tudo: do prédio à informação.
Segundo sinal da modernidade: abriu gratuitamente todo o conteúdo opinativo e de arquivo bloqueado para não pagantes.
A publicidade on line deverá pagar a conta que hoje é responsável por apenas 8% das receitas totais do grupo, que somam US$ 3,3 bilhões.
A operação de renovação começou em 2001 com o planejamento do novo prédio para o qual o jornal inteiro se mudou este ano. Fica na mesma região, no número 620 da oitava avenida. Trata-se de um arranha-céu de 53 andares: The New York Times Building. O grupo ocupa 23 andares.
O arquiteto: Renzo Piano, 70 anos, o mesmo que desenhou o Centro Georges Pompidou, o Beaubourg, em Paris, e é reconhecido por seu gosto pela transparência, a mesma que perpassa este edifício e foi escolhida pelos proprietários do Times para definir o conceito de grupo: transparência e comunicação.
A transparência se fez com os vidros translúcidos que cobrem 100% das paredes externas e até parte do teto que cobre os três primeiros andares da base que se alongam na parte traseira do edifício.
Comunicação que se faz com ambientes abertos, sem salas, como que convidando as pessoas a se relacionarem inclusive pela disposição e facilidade de chegar às escadas, duas por andar, uma de cada lado, sem nenhuma separação aparente em relação aos andares, mas cuja porta corta-fogo é um achado na engenharia, porque forra automaticamente o chão em caso de fogo.
Há outras inovações, como os elevadores inteligentes cujo andar é escolhido antes de você entrar nele; o ar condicionado que sopra do chão para economizar energia ou as pequenas telas de LCD que mostram as centenas de fotos captadas a cada dia pelos fotógrafos do Times…
As cores combinam algumas paredes vermelhas e paredes bege, o chão tem carpete cinza e os móveis são marrom claro. Onde não há parede, há vidro, especialmente nas salas dos editores e salas de reunião. A própria sala do chairman e publisher Artur Ochs Sulzberger Jr, 56 anos, – filho do lendário Punch – é uma espécie de aquário sem água no décimo-quinto andar no qual se pode assisti-lo a trabalhar e onde trabalham, só no jornalismo, cerca de 1.000 jornalistas.
Sulzberger Jr. atesta: “Este edifício foi desenhado desde o solo até o alto para reforçar os valores da The New York Times Company. O plano aberto e a facilidade de comunicação, ambos verticais e horizontais, representam nossa cultura de colaboração e transparência. O brilhante design representa nosso compromisso com a inovação constante”.
No que toca à questão da informação, o conceito é que a empresa está voltada 100% para ela. O novo prédio prevê espaços para a tomada e edição de vídeos e gravações em geral.
Se a redação tradicional ocupa três andares, a redação do jornal na web já ocupa dois andares. Se a redação produz conteúdos que serão reempacotados pelo pessoal da web, todos já estão preocupados com conteúdo multimídia.
Mesmo o material exclusivo, aqueles furos que só apareciam no jornal impresso, já vão para a web antes de surgir a edição impressa.
O velho jornal impresso perde circulação e agora está na casa de 1,1 milhão de exemplares por dia da semana exceto aos domingos quando atinge 1,6 milhão de exemplares (já teve 1,7 milhão).
O site tem 1,6 milhão de visitantes únicos por dia.
Ao somar os leitores do jornal impresso e os da web, cuja sobreposição é de 16%, o alcance é de 4,1 milhões de leitores por dia, 14,6 milhões por mês de consumidores de notícias e de interpretações – agora também disponíveis gratuitamente na web.
O mais importante no que toca às difíceis relações entre as empresas da velha mídia e as das novas mídias é que esta antiga fortaleza da comunicação decidiu apostar na digitalização da informação e renovou-se inteira e completamente para tanto.
Se o lema do jornal impresso é o de que ali se publicam todas as notícias que merecem publicação, o lema foi transposto para a web e ali também estão todas elas – agora à disposição de todo o mundo.
Texto publicado originalmente em 17/10/2007 no blog de Tecnologia do iG. Postado às 14h50.