Por Caio Túlio Costa
A partir de hoje, The New York Times, National Geographic, The Atlantic, NBC News, The Guardian, BBC News, Bild, Spiegel Online e BuzzFeed – oito monumentos do jornalismo clássico e um monumento da nova mídia –integram o projeto de publicação de notícias diretamente em suas páginas do Facebook contra a comercialização de publicidade lá dentro.
Os veículos ficarão com 30% da receita dos anúncios incluídos pelo próprio Facebook e com 100% da receita que conseguirem vender por si próprios no espaço facebookiano.
Ou seja, os jornais abriram mão de levar mais audiência para seus respectivos sites e também vão publicar notícias diretamente no Facebook.
Nada mais correto, monetizar o conteúdo onde está o leitor, como este que vos fala havia alertado no passado, veja aqui.
Mas, agora, há indícios de que o Facebook – que cada vez mais é empresa de mídia e cada vez menos rede social – conseguiu enrolar em grande estilo empresas de comunicação muito sérias e na batalha para resolver a questão digital.
Ainda se trata de uma experiência, evidentemente. Enquanto for experiência, o Facebook vai se mostrar bonzinho. No entanto, o histórico do comportamento tanto de Mark Zuckerberg na consolidação de seu poder no Facebook quanto o de negócios da empresa com parceiros, sugere que as publicações que aceitaram este experimento precisam ficar de pé, perna e braço atrás.
Quando a Zynga incluiu o “social game” FarmVille no Facebook, em 2009, era tudo maravilha. Como os jornais agora, ela podia comercializar o joguinho diretamente e levava 100% da renda. Logo que o sucesso chegou para a Zynga, e a mesma ajudou o Facebook a ganhar audiência (entre 2009 e 2010 o Facebook ultrapassou a barreira dos mais de 600 mil novos usuários por dia!), o Facebook decidiu lançar sua própria moeda de comercialização interna e logo depois reviu o contrato com a Zynga e passou a cobrar comissão da Zynga pelo que ela própria vendia dentro da plataforma.
Ao mesmo tempo, restringiu a distribuição dos posts da Zynga. Exatamente como passou a fazer com todas as marcas e com todos os usuários, obrigando-os a “impulsionar” os próprios posts. Ou seja: todos tiveram que pagar ao Facebook para ser mais vistos no próprio Facebook.
A restrição da visualização dos posts foi aplicada paulatinamente. Hoje, pasmem, somente de 2% a 4% dos seguidores ou amigos de cada página ou de cada perfil conseguem visualizar posts que não sejam “impulsionados”. Como o Facebook diz, é a forma de entregar para os usuários somente o conteúdo de “alta qualidade”. Qualidade segundo seus próprios critérios, obviamente.
O Facebook enfrenta problemas como o de continuar conquistando usuários jovens. Também precisa, desesperadamente, fazer crescer sua receita. Faturou US$ 7,8 bilhões em 2014 contra US$ 66 bilhões do Google, sua Nêmesis. Outro dado assustador para o Facebook é que, desde que suas receitas são conhecidas, ele levou oito anos para faturar US$ 7,8 bilhões enquanto que, respectivamente, em oito anos o Google estava faturando US$ 23,7 bi – três vezes mais!
Uma das últimas providências do Facebook na faina de buscar desesperadamente mais receita veio em abril. Fechou aos portões para as buscas que empresas de monitoramento da internet realizavam lá dentro. Obviamente, o próximo passo vai ser o próprio Facebook vender sua busca interna – e impedir assim que outros negócios floresçam na órbita de sua narcísica plataforma.
Ou seja, se der certo a iniciativa de hoje, daqui a pouco, quando acabar a experiência, ou então um tempo depois para não criar tanto atrito, quando novas publicações forem admitidas e se animarem com a possibilidade de angariar mais receita com a publicidade comercializada lá dentro, o Facebook vai fechar a torneira e cobrar uma bela comissão – ou chegar com outra restrição qualquer. Exatamente como tem feito ao longo de sua história.
Dante já alertou: no último círculo do inferno, não há fogo, e sim frio. Lá ficam os traidores. Será que, nesta estratégia de abraçar o demônio, os jornais deixaram para trás toda a esperança quando adentraram aquela porta?