Exemplos de moral provisória

Acaba de ser lançado o livro “Esfera Pública, Redes e Jornalismo” no qual Caio Túlio Costa, professor titular de Ética Jornalística da Faculdade Cásper Líbero, apresenta uma série de exemplos da moral provisória no jornalismo em seu artigo “Sobre a moral provisória”.

Editado pela e-papers, foi organizado pelos professores do curso de pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo. Além de prefácio de André Lemos, da UFBa, e apresentação de Dimas A. Künsch, da Cásper, o livro é composto de 18 textos de autores distintos.

O índice e a biografia dos autores revela a abrangência da obra:

Primeira parte: Esfera pública interconectada: processos discursivos e contextos de interação

1. “Os deuses voltam à cena: ciberespaço, razão e delírio”, por Dimas A. Künsch – da Cásper Líbero;
2. “Esfera pública e os media na trajetória de pensamento de Jürgen Habermas”, por Rousiley C. M. Maia – da UFMG;
3. “Esfera pública interconectada, blogosfera e redes sociais”, por Sergio Amadeu da Silveira – da Cásper;
4. “Trocas simbólicas no ciberespaço e os processos de construção de esferas públicas interconectadas”, por Liráucio Girardi Júnior – da Cásper;
5. “Opinião pública e conversação cívica”, por Heloiza Matos – da Cásper;
6. “A argumentação na esfera pública: em busca da articulação discursiva e do entendimento entre atores plurais”, por Ângela Marques – da Cásper;
7. “Mundo, mundo, vasto mundo da vida…” por Eugênio Bucci – da ECA/USP;
8. “A diluição de fronteiras no campo da Comunicação em tempos de interculturalidade”, por Laan Mendes de Barros, da Cásper.

Segunda parte: 0 jornalismo e suas interfaces com o ciberespaço, o imaginário e a política

9. “Mídias sociais conectadas e jornalismo participativo”, por Walter Teixeira Lima Junior – da Cásper;
10. “As mídias sociais e o ciberjornalismo: reconfiguração de vozes”, por Elizabeth Saad Corrêa – da ECA/USP;
11. “Da esfera pública à blogosfera a partir da estética da comunicação”, por Luís Mauro Sá Martino – da Cásper;
12. “Hipermídia, hiperlinguagem e imagem complexa no webjornalismo”, por Dulcília H. Schroeder Buitoni – da Cásper;
13. “Enquetes e sondagens de opinião e a agenda de debates da ciberpolítica”, por Rosemary Segurado e Vera Chaia – ambas da PUC-SP;
14. “A mídia e os acontecimentos de 1968: produção de sentido ou implosão?”, por Cláudio Novaes Pinto Coelho – da Cásper;
15. “Rádio informativo e ecologia da comunicação:o Jornal da CBN como cenário de vinculação sociocultural”, por José Eugenio de Oliveira Menezes – da Cásper;
16. “Jornalismo e imaginário: o lugar do universal”, por Marcia Benetti – UFRGS;
17. “Sobre a moral provisória”, por Caio Túlio Costa – Cáper – e
18. “O ensino de jornalismo frente à realidade das novas tecnologias”, por Carlos Costa – da Cásper.

No seu artigo, Caio Túlio Costa aprofunda a questão específica da “moral provisória”, tema de sua tese de doutorado que se tranformou em livro (“Ética, jornalismo e nova mídia – uma moral provisória”, editado pela Zahar em 2009).

Os dois parágrafos iniciais, reproduzidos abaixo, dão o tom do texto que contém vários exemplos de moral provisória no jornalismo:

“A moral provisória é o jornalismo em estado puro. É uma maneira diferente de entender a profissão, fundada e mantida no imediatismo – cada vez mais no adiantado da hora. No jornalismo, a moral provisória é o instantâneo do profundo abismo entre os princípios e o dia a dia, entre o teórico e o prático, entre o ideal e a realidade. Ela se nutre do fosso entre o normativo e o funcional. Ela não existiria se não existissem meios escusos para fins nobres. Ela não existiria se não existissem interesses, ilegítimos ou legítimos, sejam individuais, empresariais ou institucionais. Se a moral provisória é usada por motivo honroso, mais assertivamente ainda ela pode ser provisoriamente enganadora, provisoriamente mentirosa, provisoriamente má – definitivamente destrutiva. A moral provisória nasce, cresce e floresce num paradoxo: constrói para destruir – destrói para construir. Justificativas de princípios morais valem para nortear idealmente a imprensa quando investiga um assunto, uma pessoa, uma empresa, uma instituição. Mas são desconsideradas na forma como a imprensa investiga, apura, decide – ela chega a usar ferramentas imorais no processo de captação da informação. Se o motivo é escuso, então, vai-se usar um código moral transitório para justificar o injustificável. Em ambos os momentos, a moral é provisória, interina, momentânea. E o jornalista, temporariamente, é autorizado a ser mau, hipócrita, enganador, mentiroso – o justiceiro.”

“Se os profissionais puros, altruístas e de boa fé sustentam, antes de tudo, que o jornalismo deveria ser uma práxis ética (Bucci, 2002: 26), a indústria se planeja, se diz e se maquia exatamente como se a fosse. Ela nunca reconhece ter a moral provisória como recurso. Não. Em público, normativamente, a indústria da notícia se apresenta como a campeã da virtude moral. Mas desanca essa práxis nos bastidores, naquilo que não é escrito nem mostrado, naquilo que está subjacente à investigação, na manipulação e na reutilização da idéia da moral conforme a necessidade, o momento, a situação; para significar isso ou aquilo porque o “interesse público” sempre fala mais alto. Mas o que é interesse público? Quem define o interesse público? A direção da empresa de comunicação? O ocupante do governo da ocasião? O deputado, o empresário, o editor da publicação, o leitor, o consumidor?”

O livro pode ser encontrado nas boas livrarias e se mostrou desde o primeiro momento indispensável para quem se interessa por comunicação e, em especial, pelo jornalismo em época de grandes trannfor,ações comandadas pela tecnologia.

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