Televisão brasileira resiste ao aumento das novas mídias, diz Ibope
O Ibope concluiu que a televisão brasileira resiste ao crescimento das novas mídias. O tempo que os brasileiros passam na frente da televisão não tem caído na mesma velocidade de outros países. Nos EUA, por exemplo, conforme a Nielsen Media Reserch, a audiência televisiva vem sendo erodida na média de 2% por ano já faz uma década, enquanto a população norte-americana ganhou 30 milhões de pessoas.
Nota publicada este mês na Folha diz que, depois de aumentar meia hora por dia entre 2001 e 2005, o tempo de audiência tanto na TV aberta quanto na TV paga, teve “redução no ritmo de crescimento” em 2006. Queda mesmo houve no tempo dedicado à TV por parte das pessoas com mais de 50 anos. Elas assistiram quatro minutos a menos de televisão em 2006: 5h34min contra 5h38m no ano anterior. Houve crescimento de tempo nas classes C, D e E.
“Na média, o brasileiro assistiu à televisão durante impressionantes (sic) 5 horas, quatro minutos e 23 segundos por dia em 2006. Em 2001, essa média nacional era de 4h37min15s”, dizia a nota. Uma conta simples, multiplicar a quantidade de horas pelos dias do ano, leva a um número pouco impressionante se comparado ao norte-americano: o brasileiro dedicou 1.850 horas por ano à televisão em 2006. A Nielsen diz que o americano deixa um pouco mais de quatro horas por dia para a televisão, ou seja, 1.460 horas por ano, 30% a menos do que o brasileiro.
Dora Câmara, do Ibope, explicou à Folha que os mais jovens aderiram às novas tecnologias, mas as consomem simultaneamente à televisão – como se isso fosse pouco. Ela disse outra coisa, essa sim impressionante, porque é daquelas capazes de tapar o sol com a peneira: “A internet poderia estar afetando o meio, mas a TV continua intacta (sic), tanto que foi vista por 95% da população em 2006. A TV resiste porque entrega um produto que o público quer ver”, segundo ela.
Sim, a TV aberta brasileira, por conta da Globo, é uma televisão de qualidade internacional, equivale-se à boa TV paga de muitos países e marca presença em quase todos os domicílios, até nos mais miseráveis. Não está em jogo a audiência total da televisão, ou seja, a quantidade de pessoas que têm acesso a ela. Está em jogo uma outra coisa: o tempo que as pessoas dedicam à televisão.
E esse tempo vem caindo. Evidente que cai aceleradamente fora do Brasil, em países onde a população tem poder de compra suficiente para se distrair com mais coisas do que apenas a TV, onde ela disputa tempo com muito mais passatempos do que outrora. Só não o faz com mais vigor aqui porque o país é pobre e a penetração dos novos aparatos tecnológicos é pequena, com exceção do celular – que já passou a casa de 100 milhões de aparelhos em uso. Não existem mais de 4,5 milhões, no máximo 5 milhões de assinantes pagantes de TV no Brasil. O mesmo número vale para os assinantes pagantes de banda larga, quantidade pequena se comparada à de aparelhos de TV e de celulares. Mesmo a internet discada tem penetração relativa e ajuda a fazer com que cerca de 15% da população passe pela internet uma vez por mês (número, no entanto, que garante à internet o status de segunda mídia nacional em audiência).
Aos poucos, as novidades da nova mídia entram no gosto da população. Na própria medida da produção em escala, os preços caem e a população até pode ver melhorar sua capacidade de compra. Quem disputará o tempo da televisão então? O celular, o computador, o DVD, o CD, o iPod, o e-book, o palm, o notebook, todos os aparelhinhos para ouvir música em MP3, o console de videogame, além de tudo o que está por vir e ainda não sabemos.
Muito se fala do fim das velhas mídias, em especial dos jornais porque os jornais agora são lidos no computador. A internet iria matar a indústria do jornal. As reações são monótonas: o jornal não matou o livro, a televisão não matou o rádio, o DVD não matou o cinema.
Não é nada disso.
Ninguém vai matar a televisão nem o jornal ou a revista. O elemento vivificador, a tecnologia propiciadora de acesso universal e móvel à profusão das informações, leva indústrias a ver mirrar seu tempo de consumo, como a da televisão, ou a entrar em declínio, como a do jornal. Não significa que irão morrer, significa que passou o apogeu. Só isso. E isso é muito.
Caio Túlio Costa é jornalista e diretor presidente do Internet Group, que reúne o iG, o iBest e o BrTurbo. E-mail: caiotulio@ig.com.br Texto originalmente publicado no semanário Meio & Mensagem, edição de 26/02/2007, pág. 8