Encontro sobre Web 2.0 revela caminhos da internet
Participei em São Francisco, na Califórnia, do quarto evento anual especializado em unir empresas e profissionais engajados no que se convencionou chamar de web 2.0 – ou seja, todo o poder ao usuário.
O nome do encontro é Web 2.0 Summit e havia mais ou menos 900 pessoas nesta edição, em outubro e 2007. A delegação brasileira era a terceira entre as estrangeiras, com nove pessoas, atrás da Inglaterra e do Canadá. Além do iG, estavam lá a Globo.com, o UOL, o IDG e o Buscapé.
A expressão da moda é web semântica (semantic web), que define máquinas ajudando na leitura e na identificação das informações dentro de uma lógica própria para, numa busca, conectar nomes, substantivos relacionados. Ou melhor, na visão de Tim O’Reilly: “A web semântica tem a ver com desenvolver linguagens; com a codificação de documentos para que eles sejam mais acessíveis aos computadores”.
A web semântica já é uma realidade. Tem muito a ver com os sites colaborativos, coração da web 2.0. Nos últimos quatro anos, vários sites conquistaram colaboradores e audiência. Projetos como o da Wikipedia ou dos sites de relacionamentos como Orkut, Facebook e MySpace.
O mundo também descobriu que qualquer indivíduo pode publicar notícia (Ohmynews), pode distribuir sua voz em áudio (podcasts) e pode levantar vídeo na rede (You Tube).
Surge agora uma segunda onda de serviços especialmente arquitetados para funcionar dentro das plataformas criadas pelas estrelas da web 2.0.
O Facebook, por exemplo, o site mais comentado no evento, já ostenta mais de seis mil “aplicativos” – como, por exemplo, aquele que facilita o encontro dos amigos, outro para responder a questões de qualquer ordem, um que compara pessoas ou o iLike, de música, que dragou um milhão de usuários em apenas uma semana.
As cobranças sobre rentabilização dos sites e a necessidade de um correto modelo de negócio deram o tom do evento. A primeira cobrança veio para cima do jovem Mark Zuckerberg, 23 anos, fundador do Facebook e na luta por achar o seu modelo de negócio.
Ouça o diálogo entre o animador John Battelle e Zuckerberg:
Battelle: “Como vão as finanças?”
Zuckerberg: “Estão indo bem, quase prontas”. (…)
Battelle: “Quanto tempo você dedica ao seu modelo de negócios?”
Zuckerberg: “Gasto muito tempo com o desenvolvimento do produto”.
Battelle: “Não foi isso que perguntei…”
Zuckerberg: “Eu não quero focar no meu modelo de negócio”. (…)
Battelle: “Você pretende inserir ad words e ad senses [ou seja, anúncios na forma de linhas de texto baseados em busca] no site?”
Zuckerberg: “Daqui a três meses eu poderei responder”.
Ou seja, Zuckerberg manteve firme a sua imagem de menino que não liga a mínima para os negócios. Uma semana depois foi anunciado que a Microsoft iria gerir seus anúncios.
Battelle voltou ao assunto Facebook num jantar o qual reuniu o mega-empresário das comunicações Rupert Murdoch (News Corporation) e Chris DeWolfe, criador e comandante do MySpace, concorrente do Facebook.
A pergunta desagradável de Battelle para DeWolfe: “Como é vender 100% da companhia por US$ 580 milhões [vendida para Murdoch] enquanto o Facebook negocia apenas 5% da empresa por US$ 500 milhões?” [A Microsoft, no fim, conforme anunciado no final de outubro, acabou adquirindo 1,6% do Facebook por US$ 240 milhões e se transformou na parceira exclusiva de publicidade do site – operação que por si justifica o montante investido e também elimina o concorrente Google na exploração de anúncios no Facebook.]
DeWolfe (cujo MySpace desembarca em breve no Brasil) enrolou muito bem o anfitrião, não respondeu objetivamente, e deixou as luzes da noite para o patrão Murdoch, 76 anos, que se manteve impassível durante o ato de constrangimento.
Convidado a dar três exemplos do que vai fazer com o recém-adquirido The Wall Street Journal (que ele declarou ainda não ter pago), explicou pretender torná-lo um jornal mais geral e não focado apenas em economia.
“Você quer matar o New York Times?”, perguntou Battelle.
“Seria legal isso”, retrucou Murdoch.
Enfim, a web 2.0 é um sucesso e as pessoas aderiram em massa às possibilidades infinitas de protagonizar qualquer coisa na internet. Então, como as empresas vão conseguir rentabilizar tudo isso? O Google, talvez a empresa que mais entendeu como trabalhar com o internauta em todo o mundo, sabe. Quem sabe o Yahoo (cuja receita no último trimestre, de US$ 1,2 bilhão excedeu a previsão dos analistas e mostrou um crescimento de 11% em relação ao mesmo trimestre do ano passado) também saiba. E a Microsoft seguramente vai saber (questão de tempo). O resto é silêncio.
*Caio Tulio Costa é jornalista, presidente do Internet Group (que reúne os portais iG, iBest e BrTurbo). Texto originalmente publicado no Meio & Mensagem de 5/11/07 à pág. 10.
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