Depois de ter participado inúmeras vezes como entrevistador no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, eu enfrentei o centro da sua roda, numa noite de segunda-feira, 21 de junho de 2008.
Pela primeira vez, o programa iria discutir uma tese de doutorado.
No caso, Moral Provisória – Ética e jornalismo: da gênese à nova mídia, recém-defendida na USP.
Ela dá conta das questões relativas à ética, ao jornalismo e às novas mídias.
Depois do programa, a tese virou livro, em publicação da Zahar.
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Logo no início do programa, a apresentadora, jornalista Lillian Witte Fibe, me questionou sobre jornalistas que usam a sua própria imagem para fazer propaganda, como, por exemplo, um comentarista de economia se propor a fazer publicidader de banco e continuar emitindo análises sobre o sistema financeiro.
Ela condenou fortemente essta prática.
Respondi que ali mesmo, nos laptops usados pelos entrevistadores, havia o logotipo de uma empresa de computadores (Itautec) e os entrevistadores (aparentemente) não estavam (e nem deveriam estar) comprometidos com o anunciante.
Acrescentei que uma televisão pública, como a TV Cultura, acolhia publicidade nos intervalos de seus programas.
Expliquei que o jornalismo é um negócio desde seu nascimento e que o mais importante é que o jornalista que faz propaganda que o faça de maneira transparente, de forma que a publicidade nunca se confunda com o material editorial.
Não há como fugir da realidade de que parte ou a totalidade do salário dos jornalistas é paga com recursos captados junto aos anunciantes.
Disse também (em resposta ao jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva) que meu trabalho na então tese, e agora no livro, não era o de dizer como o jornalismo deve ser praticado, mas sim de analisar como ele é praticado – independentemente do que consideramos ser o jornalismo ideal.
Neste trabalho, não foi meu intuito fazer mais um manual de boas maneiras para o jornalismo.
Mesmo que eu diga como ele deve ser, isso não vai mudar em nada a maneira como ele é praticado, porque de manuais de boa conduta os jornalistas e comunicadores estão bem servidos e a imprensa tradicional continua a mesma de sempre.
[Aqui cabe uma digressão além do programa:
[No fundo, a moral no jornalismo, é sempre a moral provisória, aquela moldada para caber em cada momento e em cada necessidade – argumentos idênticos costumam ser usados para condenar ou glorificar um personagem.
[Os veículos de comunicação cobram de pessoas ou de instituições aquilo que eles próprios não praticam.
[Exemplos corriqueiros:
[Os jornais e as televisões são vigilantes em relação ao nepotismo nas instituições – enquanto vige o nepotismo, por exemplo, nas próprias empresas de comunicação.
[A Folha cobrou há pouco tempo a presença de modelos negras na passarela dos desfiles da São Paulo Fashion Week – mas o jornal escolhe as fotos que publica em função da presença de negros nas fotos? O jornal escolhe suas fontes igualmente entre negros, brancos, índios e pardos? Quantos negros existem nas redações?]
Enfim, em qualquer profissão existem os que a exercem corretamente e os que fazem o contrário – e esste contrário carece de análise.
Separei também um pequeno diálogo do programa o qual, espero, sintetize o espírito das discussões:
Mario Sergio Cortella: Isto é o simulacro. A idéia de que a realidade aí está, que o jornalismo a captura na sua múltipla face, seleciona o que entende ser aquilo que precisa ou pode ser exposto e publica, divulga, apanha as imagens… mas simula.
Caio Túlio Costa: E usa recursos que são entendidos como moralmente defensáveis e, ao mesmo tempo, dependendo de como você aborda a questão, são entendidos como moralmente indefensáveis – e isto faz parte do jornalismo.
Cortella: Mas você recorre à filosofia no seu trabalho – eu o li com gosto, muito bom na estrutura, na condição –, você recorre à filosofia e menos ao jornalista, isto é, aos clássicos do jornalismo, aqueles que produziram. Está a discussão ética do jornalismo fora do jornalismo? Isto é, os jornalistas não são aptos a falar de ética?
Caio Túlio: Absolutamente, eles o são. O livro é um livro de comunicação que usa a filosofia no sentido de pretender dar alguma solidez às reflexões que tentam entender o fazer jornalístico.
Participaram do programa como entrevistadores, além da âncora Lillian Witte Fibe; o jornalista e acadêmico Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S. Paulo; Luiz Garcia, colunista do jornal O Globo; Lia Rangel, jornalista resposável pela área de web da TV Cultura, além de Mário Sérgio Cortella, professor titular do departamento de Teologia e Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Quem cuidou das perguntas dos telespectadores foi Laís Duarte.
A Cobertura do Roda Viva na Internet com usuários do comunicador Twitter, no estúdio, foi feita por André Deak, jornalista (twitter.com/andredeak); Elisandela Roxo, jornalista do jornal O Estado de S. Paulo (twitter.com/roxo) e Marcelo Soares, jornalista – (twitter.com/msoares).