Mary Meeker faz panorama do mercado de tecnologia
Estive pela primeira vez com Mary Meeker, a principal analista da indústria ligada à internet, quando este mercado estava no auge e o desejo maior das empresas nascentes era lançar ações na bolsa de valores. Meeker – nascida em 1959 em Portland, Indiana , formada em psicologia, MBA na Cornell University e windsurfista aos domingos – já carregava o título de “Rainha da Net” por conta de suas análises precisas.
Quando a encontrei, numa reunião no próprio banco onde ainda trabalha, o Morgan Stanley, e no qual ela sobreviveu à bolha da internet, era já era nervosa, perguntadeira, certeira, rápida de raciocínio, não perdia tempo com divagações. Na época, isso faz lá uns oito anos, ficou surpresa com alguém na América Latina empenhado em construir um portal recheado de conteúdos. Como é que vocês chegaram a esse modelo? Como vocês pensaram isso? Ela questionava, atônita com o fato de alguém fora dos Estados Unidos se meter a fazer conteúdos exclusivos para a internet. Ela gostou do que enxergou aqui no Brasil.
Eu a vi de novo este ano no encontro sobre web 2.0 em São Francisco. Continua elétrica, a mesmíssima profetisa dos relatórios precisos sobre este mercado complicado em suas mutações constantes e desafios continuados. Vamos ao que ela disse.
Primeiro, ela mostrou que o Brasil vai bem: junto com a China, a Índia e a Rússia, o País ganha terreno na área de tecnologia, mídia e telecomunicações (TMT). Em 2004 o País não aparecia entre os dez primeiros da lista de peso relativo em TMT. Na última atualização, em 2006, surgiu em oitavo lugar. O índice é o seguinte:
1. EUA, 8,7 |
2. China, 8,7 |
3. Japão, 6,3 |
4. Alemanha, 5,7 |
5. Índia, 5,5 |
6. Reino Unido, 5,4 |
7. França, 5,3 |
8. Brasil, 5,3 |
9. Rússia, 5,3 |
10. Itália, 5,2 |
Este índice se funda no banco de dados do Morgan Stanley a respeito do mercado mundial de produtos e serviços em tecnologia, mídia e telecomunicações. Mede o tamanho com base nas taxas de crescimento, em cada país, do PIB per capita, das linhas telefônicas; dos assinantes de cabo, dos PCs instalados; dos telefones celulares em uso; dos usuários de Internet e dos tomadores de crédito. Calcula-se o passado, o presente e o potencial do mercado global.
A Rainha da Net também apontou as tendências na tecnologia, nesta ordem:
1. A performance das ações de empresas de tecnologia nas bolsas reflete fortemente as expectativas futuras.
2. A demanda de aparelhos com internet integrada a eles é muito forte por parte dos consumidores. 3. Aceleram-se as inovações em produtos sem fio.
4. Continua crescendo a necessidade de espaço para se armazenar dados.
5. O crescimento do mercado de Data Centers é robusto.
6. Mercados emergentes entram no ritmo de adoção das novas tecnologias.
7. As empresas podem estar largando mão do atual ritmo de compras.
8. A recessão (ou recessões) poderá se tornar um potencial desafio.
Ela se perguntou se a web 2.0 continuará dirigindo o crescimento da internet. Usou declaração de John Chambers, presidente mundial da Cisco, para responder: “A nova onda de ganhos de produtividade das empresas deverá ser estimulada pelas ferramentas colaborativas que utilizam a rede como plataforma para permitir aos usuários ligar qualquer dispositivo a qualquer conteúdo em qualquer combinação de redes”.
Sobre a internet, ela profetiza (mesmo que pareça óbvio):
1. Forte crescimento de usuários de internet e crescimento mais rápido nos mercados fora dos EUA. 2. Forte crescimento de banda larga – com mais capacidade na rede.
3. Os sites de busca continuarão a melhorar enquanto ferramenta de acesso a conteúdos.
4. Haverá ganho de participação de mercado dos produtos on line [nova mídia] contra os produtos off line [velha mídia] – grandes mercados a explorar.
5. Guerra de aquisições será crescente, haverá fusões e aquisições de negócios emergentes.
6. A Web 2.0 continuará atraente.
7. Este é o momento do Software como Serviço (SaaS).
8. Ganham impulso aparelhos novos com internet integrada.
Ela também indicou características da internet em alguns países:
1. O Brasil e a Coréia do Sul são fortes em redes sociais, sites comunitários.
2. O Reino Unido é forte em publicidade on line (aliás, é o único mercado até agora no qual a internet tem mais de 10% do bolo total de publicidade).
3. Alemanha é forte em comércio eletrônico.
4. A China é forte em games on line.
5. A Coréia do Sul é forte em banda larga.
6. O Japão é forte no uso do celular como meio de pagamento.
7. As Filipinas são fortes em microtransações via SMS [mensagens por celulares].
Enfim, o espaço é curto para resumir o que Mary Meeker despejou de forma torrencial em apenas 15 minutos, mas o resumo proporciona uma bela idéia da situação atual do mercado de tecnologia e de novas mídias.
* Caio Túlio Costa é jornalista, presidente do Internet Group – que reúne os portai iG, iBest e BrTurbo. Texto originalmente publicado no Meio & Mensagem de 3/12/07 à pág. 12.