Os relatos jornalísticos

PEUCER, Tobias. De relationibus novellis. Leipzig: Tese (Doutorado em Periodística) – Universidade de Leipzig, 1690. Tradução de Paulo da Rocha Dias. São Bernardo do Campo: PósCom-Umesp, 1999. [Mimeo].¹

Preâmbulo do tradutor

Tobias Peucer faz parte de um grupo que, na primeira metade do século XVII, começara a pesquisar e a publicar os resultados de suas investigações nas universidades alemãs. Este fato coloca a Ale­manha no ponto inicial de uma rica tradição de pesquisa em jorna­lismo, continuada no presente século por pesquisadores insignes como Otto Groth e Max Weber. Confirma também a “Periodistika” como o primeiro e mais antigo ramo das Ciências da Comunicação e da Informação. É na Alemanha, e justamente em Leipzig, que surgiu o primeiro diário da história da imprensa, o Leipziger Zeitung.

A versão em língua portuguesa da tese de Peucer que ora apre­sentamos tem como base a tradução para o Catalão feita pelo profes­sor Josep Maria Casasús, presidente da Societat Catalana de Comuni­cació. Casasús, por sua vez, fez uso do texto original em Latim e da versão do mesmo em alemão. Cabe dizer aqui que esta tradução é o resultado de um desafio lançado por José Marques de Melo. Há muito que, ao se estudar a “Zeitungswissenschaft” nos cursos de pós-graduação em Comunicação, fazia-se apenas referências à pesquisa de Tobias Peucer ou se passava a conhecê-la por meio de fontes indiretas. É, portanto, útil e oportuno publicar esta versão em português não só por ser um meio de conhecer diretamente o trabalho de Peucer, mas também pela atualidade perene desta investigação realizada há mais de três séculos.

Aqueles que têm familiaridade com a pesquisa em jornalismo, irão perceber que a maioria dos temas hoje sistematizados e aos quais se recorre permanentemente quando se faz pesquisa nesta área, foram então observados e investigados de forma científica por Tobias Peucer. O trabalho pioneiro desse alemão de Görlitz deu início, em 1690, na cidade de Leipzig, ao conhecimento acumulado e sistemático de uma ciência que hoje se encontra em fase de amadurecimento e autonomia.

A leitura dessa tese leva-nos às origens das teorias de jornalismo hoje em voga nos centros de estudos avançados de Comunicação. Ler esses vinte e nove parágrafos será uma busca das origens do pensa­mento moderno em Comunicação.

Com a permissão benévola de Deus.

Paulo da Rocha Dias – Doutorando em Comunicação Social pela Umesp, Universidade Metodista de São Paulo.

Os relatos jornalísticos (De relationibus novellis)²

 

§ I. Atesto que não há nada que satisfaça tanto a alma humana como a história, seja qual for a maneira como tenha sido escrita. Pode ser que não oferecerei ao leitor uma obra ingrata se elaboro um comentário sobre as publicações de notícias (novellae) das quais há hoje uma grande abundância.

§ II. Quanto ao termo em si, é sabido por todos que novellae tem a mesma acepção de Novos Periódicos (Neue Zeitungen); porém, este significado não se encontra entre os escritores latinos clássicos. Com efeito, Charles du Fresne, em seu Glossarium ad scriptores media e et infimae Iatinitatis, observa que nas glosas manuscritas dos códex dos Concílios, a palavra novellae, por si só, significa “nova comunicação”, cita aí um exemplo do códex que se encontra na biblioteca real: “Eodem tempore, cum multi novellis gauderent quod Constantinus baptizatus a Silvestro Episcopo urbis Romae, emundatus fuisset a lepra etc.” ³

Depois, porém, os monges passaram a empregar o termo “no­tícia”. Isto se pode inferir do manuscrito, em verso, sobre a vida de Saint Mur: “Est pater in cella, cum nascitur ista novella.” (4)

Daí a palavra nouvelle de uso corrente entre os franceses. Antonius Augustinus nota que com esta palavra os imperadores de­signavam as disposições mais recentes. Nós, por proporcionar mais clareza, empregaremos a palavra “relatos” (relationes).

§ III. Porém, como consta nos critérios do meu projeto, em pri­meiro lugar gostaria de dizer algumas coisas sobre as diversas formas da história. Uma dessas formas se ordena como um fio contínuo, con­servando a sucessão precisa dos fatos históricos. Esta forma é denomi­nada universal, particular ou singular. Uma outra, em troca, discorre e resenha em uma determinada ordem os fatos ou as palavras escolhidas e dignas de serem contadas que se extraiu separadamente da narração contínua dos fatos históricos. Isto se faz na medida em que cada coisa vai se apresentando. Parece pertencer a esta forma da história as “coisas esparsas” (tá sporáden) de Aristógenes; igualmente as histórias sem ordem de Pescenni Fest, das quais relembra Lactâncio, Livro I, DefaIs. relig., c. XXI e de outros. Segundo Voss, De art. hist., c. VII. Uma outra forma, finalmente, é a confusa. Os gregos chamam-na “miscelânea (symmictica), ou seja, “história variada” ou “multiforme” (poikíle radena pantodapé historía) dado que não há também nesta forma nenhum critério de ordem, é chamada também de “coisas desordenadas” (átacta). Foi desta forma que escreveu Aristóteles a sua obra, segundo o testemunho de Laercio, livro V, p. 317.

§ IV. Esta última classe ou tipo de relationes são relatos periodísticos (Relationes novellae) que contêm a notificação de coisas diversas acontecidas recentemente em qualquer lugar que seja. Estes relatos, com efeito, têm mais em conta a sucessão exata dos fatos que estão interrelacionados e suas causas, limitando-se somente a uma simples exposição, unicamente a bem do reconhecimento dos fatos históricos mais importantes, ou até mesmo misturam coisas de temas diferentes, como acontece na vida diária ou como são propagadas pela voz pública, para que o leitor curioso se sinta atraído pela va­riedade de caráter ameno e preste atenção.

§ V. Agora cabe expor mais extensamente suas origens e as causas de sua composição, para que sejam mais plenamente conhe­cidas sua estrutura e sua utilidade na vida literária e cívica.

§ VI. No que se refere à origem desses relatos, não é possível assinalar um ano determinado e é difícil afirmar quando, por primeira vez, surgiu esta maneira de escrever este tipo de notícias e de relatos, digamos, precipitados. Antigamente, entre os gregos, antes da guerra de Tróia, de acordo com o que diz Diodor de Sicília no início de sua Bibliotheca historica, não era dada nenhuma atenção à história. Muito pelo contrário, antes das Olimpíadas, tudo restava desconhecido e envolto em faltas. Segundo Censori, De die natali, c. XXI. Também entre os romanos, nos primeiros séculos depois da fundação da cida­de, a literatura foi muito rara. Tampouco aqui (na Alemanha) havia sequer pessoas que pusessem por escrito a memória dos acontecimen­tos. Pode ser exceção aquilo que era registrado nos comentários dos pontífices e em outros documentos públicos e privados (veja Livi, livro VI). Esta negligência dos antigos foi compensada depois por escritores insignes, tanto gregos como latinos, que, de uma só vez, estabeleceram as bases dos comentários da história escrita. Entre os alemães, antes dos tempos de Carlos Magno, não creio que seja possível demonstrar com nenhum tipo de documentos exatos que se tenha cultivado o estudo da história. Porém, quando Carlos Magno estendeu seu poder sobre os afazeres da Alemanha, teve início o ensino da história, assim como as outras artes, sobretudo por parte dos monges, que, apesar das dificuldades da época, deixaram por primeira vez uma relação dos fatos históricos em uma crônica. Do mesmo modo, quando no início do século passado começou a brilhar a luz da literatura, homens sérios e doutos se aplicaram novamente com muita assiduidade à tarefa de estabelecer as bases da história. Com isso a sua glória atingiu um tipo de ressurgimento de maneira que muitos se dedicaram a escrever história. Depois, alguns não mais instruídos, querendo imitá-los, recopilaram uns relatos grotescos sobre fatos acontecidos recentemente aqui e acolá, obras precipitadas ex­traídas dos escritos dos palácios, dos mercadores, ou da boato público de sorte que favoreciam a curiosidade do povo, geralmente inclinada, ao conhecimento das coisas novas.

§ VII. Desde então, os itálicos e os gauleses, e depois os belgas e os germânicos, devido ãs guerras que então promoviam com sortes variáveis, parece que afeiçoaram-se rapidamente a este gênero fun­cional de escrita. Em primeiro lugar porque de forma inesperada serão instituídos os correios públicos e postais, como são denomina­dos, e assim se podia conhecer com facilidade o que sucedeu em lugares distantes. Os correios haviam sido instituídos por Augusto pela primeira vez no império romano, segundo Suetônio, Augustus, c. 49. Os correios serão ordenados mais adequadamente no império por Carlos V. Na Gália, Luis XI irá instituir os correios a fim de saber com mais rapidez e conhecer mais facilmente o que se passava em qual­quer que fosse das províncias de seu império. Limn. juro publ., livro II, c. IX, n. 135. Finalmente, por obra de Gotard Arthusius, de Gdansk, no ano de 1609, apareceram os mercúrios franco-belgas, que, apesar de anunciar fábulas falsas junto com histórias verdadeiras, consegui­ram a graça da curiosa novidade encontrar credibilidade aos olhos de muitos de maneira indiscriminada. Porque, como diz Lucrécio, livro IV, “toda a linhagem humana está excessivamente ávida de cativar os ouvidos.” E, tal como disse Sêneca no livro VII, C. 16 das Naturales questiones, “alguns são crédulos, outros descuidados. Outros são enganados de boa fé pela mentira. Outros se deixam seduzir por ela. Uns não a evitam, outros a procuram. Toda esta raça tem em comum o defeito de crer que a sua obra não se fará aceitar nem se tornará popular se não for misturada com fábulas”.

§ VIII. Assim então, as causas da aparição dos periódicos impres­sos com tempestiva freqüência hoje em dia, são em parte a curiosidade humana e em parte a busca de lucro, tanto da parte dos que confeccionam os periódicos, como da parte daqueles que os comer­ciam, vendem. Assim se poderia demonstrar com exemplos óbvios a cada passo, mas pareceria tedioso entreter-se extensamente em uma coisa conhecida, e poderia afinal ser enfadonho para alguns.

§ IX. Cabe-nos então avançar primeiramente às causas pelas quais se compõem tais relatos; em primeiro lugar cabe tratar dos autores (que na escola é denominado “causa eficiente”). Se alguém espera encontrar nestas umas notícias (novellae) verdadeiras e úteis (empregaremos por enquanto o termo novellae em sentido comum, vulgar), são necessárias diversas coisas. Indicaremos as qualidades do bom historiador; em parte cabe relacioná-las com o intelecto e em parte com a vontade.

§ X. Cabe ao intelecto o conhecimento das coisas que serão registradas nos relatos públicos. Estas são obtidas por inspeção pró­pria (autopsia) quando o sujeito é espectador (autóptes) dos aconte­cimentos, ou por transmissão, quando uns explicam aos outros os fatos que presenciaram. E nisso qualquer pessoa concordará sem nenhum problema que é merecedor de mais credibilidade o testemu­nho “presencial” (autóptes) que o receptor de uma transmissão de outro. Assim como nos julgamentos costuma-se dar mais crédito a um testemunho ocular que a um testemunho de ouvidos, assim também se dá mais crédito ao narrador “presencial” (autóptes) que a quem cuja narrativa foi extraída de outro. Pode ser também por esta causa que Verri Flac, no livro De verborum significatione, citado por Gelli, livro V, c. 18, pretende que a história propriamente seja a narração daquelas coisas de que o indivíduo tenha sido espectador (autóptes). Porém, Voss, De art. bist., c. 1, observa com acerto que assim a his­tória é tomada em um sentido mais estrito.

§ XI. Depois, na confecção deste tipo/classe de relatos, faz falta o juízo, a mais exímia qualidade do intelecto, para que, por meio dele, as coisas dignas de crédito sejam separadas dos rumores infun­dados que se fazem correr; as leves suspeitas e as coisas e ações diárias sejam separadas das coisas públicas e daquelas que merecem ser contadas. Este juízo faltou em outros tempos sobretudo aos mon­ges, assim como a muitos escritores, ou seja, aos autores das crônicas, e também falta freqüentemente aos redatores de periódicos quando procuram falar de banalidades (micrologia) e minúcias (tá lepta) e omitem o que seria útil e fácil de ler, envernizam com documentos o que ouviram dizer por outros e, por fim, quando não têm coisas exatas, fazem passar por história as suspeitas e conjecturas dos outros. Muitas coisas desse quilate chegam do estrangeiro.

§ XII. Sobre este defeito, comum nos historiadores, advertiu em outros tempos Lúcia na obra De hist. scrib.: “há muitos que deixam de lado os fatos históricos maiores e mais dignos de ser contados, ou a eles se referem apenas superficialmente; isto acontece por falta de instrução ou de critérios e por ignorância em relação ao que cabe dizer ou silenciar, inquirem sobre as coisas mais insignificantes, de­tendo-se nelas de maneira extremamente prolixa e laboriosa. Como se um não visse nem ouvisse toda a beleza de Júpiter d’Olímpia, que é tão grande e tão excelsa, e não explica nada aos que a desconhe­cem, enquanto admiram em troca a retidão e polidez do pedestal e a harmonia da sandália (explica detalhada mente estas coisas com grande paixão)”. E depois ilustra esta sentença com um duplo sentido, um extraído dos jardins e outro dos convites. Diz-se que é bem sim­ples se um, deixando de lado a rosa, se aplica mais prontamente a contemplar com acurácia os espinhos que surgissem perto da raiz ou se em um jantar muito suntuoso, alguém achasse conveniente colocar juntos um peixe vulgar e um prato de carne. Quando se está mais pronto para não fazer nenhuma das duas coisas.

§ XIII. Relaciono com a vontade do escritor de periódicos a credibilidade e o amor ã verdade: não seja o caso que, preso por um afã partidário, misture ali temerariamente alguma coisa de falso ou escreva coisas insuficientemente exploradas sobre temas de grande importância. “Já que, quem ignora, diria Cícero, livro II De oratore, que a primeira lei da história é que não se ouse dizer nada de falso; depois, que não lhe falte coragem para dizer o que seja verdade, que não tenha nenhuma suspeita de parcialidade nem aversão alguma em escrever? É manifesto que estes fundamentos são conhecidos de to­dos.” E Estrabó, no livro XII da sua Geogr. Considera uma invenção o que se explica sobre as Amazonas, acrescenta: “A história quer o que é vero, seja antigo ou novo; E o que é insólito, ou não se narra ou o faz muito raramente.” Por isso, Polibi, um escritor muito rigoroso da antigüidade, quando decidiu escrever sobre as gestas de Escipio da Espanha, foi até àqueles países distantes para que nada de falso borrasse a sua história. Cícero, no livro I De Legibus, afirma que falta esta laboriosidade em Heródoto e em Teopomp. Quintiliano, no livro II, De institutione oratoria, c. 11, parece negar a credibilidade aos gregos quando escreveu que os gregos normalmente usam para a história as mesmas licenças que usam para a poética.

§ XIV. É certo que sob este aspecto se pode pensar que os compiladores de notícias têm maior licença que os historiadores mais rigorosos, quando eles mesmos não intervêm nos fatos nem podem obter facilmente documentos fidedignos de países distantes ou dos arquivos dos príncipes, e a maioria das coisas, muitas delas incertas, são recolhidas de cartas de amigos ou da voz pública; E, enquanto isso alimentam a curiosidade humana com alguns relatos. Da mesma forma, não se pode mentir nem dizer coisas falsas de sorte que o outro forme uma opinião falsa ou seja enganado, em tais casos, o autor trabalhará mais retamente, abstendo-se em transmitir coisas abertamente falsas ou se, em caso sejam incertas, ajunte a elas aquela precaução que Sêneca ofereceu no livro IV das Na tu rales questiones: “Caberá confiar nos autores”. Seguir uma opinião incerta e enganar os leitores em coisas de relativa importância é muito temerário. O que cabe atribuir aos rumores e à fama pública pode ser compreendido pelas palavras dirigidas por Alexandre Magno aos soldados, no livro IX de Curci: “Não é nenhuma novidade para vocês os exageros dos mentirosos. A fama jamais deixa alguma coisa ser transparente. Tudo o que ela nos traz é maior que a verdade. A nossa própria glória, sólida como é, é ainda maior pelo nome que pelas nossas obras.” E por isso é preciso averiguar se quando um fato acontecido recente­mente é anunciado imediatamente em locais diversos, é confirmado pelo testemunho de muitos. Quando estes não concordam, conferem uma credibilidade provável às coisas narradas, de sorte que afinal ao mais sério, pode suceder-lhe que algumas vezes se lhe misture coisas falsas com coisas verdadeiras sem culpa sua. Com efeito, Flávio Vopisc, em seu Aurelianus não se ruboriza em confessar que ele mesmo havia dito Juni Tiberiá que não havia historiador algum que, pelo que faz à história, não mentisse em alguma coisa; havia deixado claro afinal que alguns pontos eram refutados por testemunhos ma­nifestos de Lívio, Salustiano, Camélia Tácito e Trogus.

§ XV. Feitas estas observações, quanto ao autor, podemos nos ocupar agora da matéria dos periódicos. Esta (como a da história escrita), são as coisas singulares, fatos realizados ou por Deus através da natureza, ou pelos anjos, ou pelos homens na sociedade civil ou na Igreja. Pois bem, como estes fatos são quase infinitos, cabe esta­belecer uma seleção de modo que seja dado preferência aos axiomnemóneuta, ou seja, àqueles que merecem ser recordados ou conhecidos. São desta natureza, em primeiro lugar, os prodígios, as monstruosidades, as obras ou os feitos maravilhosos e insólitos da natureza ou da arte, as inundações ou as tempestades horrendas, os terremotos, os fenômenos descobertos ou detectados ultimamente, fatos que têm sido mais abundantes que nunca neste século. Depois, as diferentes formas dos impérios, as mudanças, os movimentos, os afazeres da guerra e da paz, as causas das guerras, os planos, as batalhas, as derrotas, as estratégias, as novas leis, os julgamentos, os cargos políticos, os dignatários, os nascimentos e mortes dos prínci­pes, as sucessões em um reino, as inaugurações e cerimônias públicas que parecem se instituir novamente ou que parecem mudar ou que são abolidas, o óbito de varões ilustres, o fim de pessoas ímpias, e outras coisas. Finalmente os temas eclesiásticos e literários: como a origem desta ou daquela religião, seus autores, seus progressos, as novas seitas, os preceitos doutrinais, os ritos, os cismas, a perseguição que sofrem, os sínodos celebrados por motivos religiosos, os decretos, os escritos mais notáveis dos sábios e doutos, as disputas literárias, as obras novas dos homens eruditos, as instituições, as desgraças, as mortes e centenas de coisas mais que façam referência ã história natural, ã história da sociedade, da Igreja ou da literatura: tudo isto costuma ser narrado de forma embaralhada nos periódicos, como uma história confusa, para que a alma do leitor receba o impacto de uma amena variedade.

§ XVI. Aqui, porém, ao escolher a matéria digna dos novos relatos jornalísticos, cabe algumas precauções que a prudência comum sugere. A primeira é esta: que aí não se ponha coisas de pouco peso ou as ações diárias dos homens; ou as desgraças humanas, das quais há uma fecunda abundância na vida comum. Tais podem ser as tem­pestades que acontecem regularmente de acordo com a diversidade de estações e clima; os atos privados dos príncipes, como fazer uma caçada, celebrar um banquete, assistir a uma comédia, fazer uma excursão a esta ou àquela montanha, passar em revista alguns bata­lhões. Igualmente, o trato aos cidadãos, entre eles, os castigos dos malfeitores, as conjecturas sobre afazeres públicos que ainda não são conhecidos e outras coisas desta natureza que são mais próprias de um diário particular que de uma resenha pública. Pode-se encontrar a cada passo muitos exemplos dessas coisas nas crônicas dos monges, e nas gravuras nos livros dos escritores. Esta mesma falta de capaci­dade de julgamento foi enfatizada em outros tempos por Capitólio em sua Macrini vita, c. 1, a propósito do historiador Juni Cordus porque ele perseguia os mínimos detalhes: como se de Trajano, de Pius, de Marco tivesse que saber quantas vezes iriam sair, quando iriam mudar a dieta alimentar, e quantas vezes trocariam de roupas. O mesmo escritor, no livro Gordiani tres, c. XXI, censura este Cordus. “Estas, dizia, são as coisas que acham dignas de recordar de Gordiã, o jovem. Nós, com efeito, negamos a divulgar tudo aquilo que Juni Cordus irá escrever de maneira ridícula e estúpida sobre as diversões domésticas e outras coisas mais baixas; Quem quiser saber sobre elas, que leia o próprio Cordus, que falou de cada imperador quantos escravos teria, quantos amigos, quantos capas, quantos clámides.” Não serviria nada a ninguém saber tudo isto.

§ XVII. Depois, a segunda precaução é esta: que não se expli­quem indiscriminadamente aquelas coisas dos príncipes que não querem que sejam divulgadas. Porque é coisa perigosa escrever sobre aquilo que pode lhe mandar ao degredo. Assim então, as pessoas prudentes aconselham que cabe esperar até que aqueles tenham desaparecido dentre os vivos ou que já não lhe possa causar danos. Assim advertiu Arrià na história de Alexandre descrita fielmente com base em Ptolomeu e em Arstóbulo; Isto foi também observado por Cornélio Tácito, Annales I, 1. Raramente foram ditas coisas verdadeiras sobre os príncipes que ainda vivem dado que os escritores esperam por uma adulação crescente e, por isso, com o relato das coisas acontecidas, falta a verdade de muitos modos: primeiramente por desconhecimento do modo como uma coisa sucedeu, depois, pelo desejo de dar consentimento ou ainda, por ódio aos que governam. Assim, entre inocentes e culpados, nenhum deles tem preocupação alguma com a posteridade. Segundo Tácito, Historiae, livro I, c. 1. Por isso, num estado bem organizado não há de ser concedido a quem quer que seja difundir periódicos entre a multidão. Segundo Besold, Thesaurus pract. Na expressão neue Zeitungen; e do célebre jurista Ahsver-Fritsch, o Discursum de novellarum hodierno usu et abusu, capo III, publicado em Jena em 1676.

§ XVIII. Eis a terceira precaução: que não se insira nos periódi­cos nada que prejudique os bons costumes ou a verdadeira religião, tais como coisas obscenas, crimes cometidos de modo perverso, expressões ímpias dos homens que sejam graves para os ouvidos piedosos. Quando se explicam estas coisas, tal como disse Plínio, é como se as estivesse ensinando. É por isso que em algumas cidades se estabeleceu com uma prudente decisão que não seja permitido imprimir periódicos sem que estes tenham sido aprovados pela cen­sura. Dá-se, com efeito, a honesta disciplina, para que os espíritos inocentes não sejam ofendidos com esta espécie de páginas impuras espalhadas aqui e ali, ou que, por outro lado, os que são propensos ao mal, não venham a ser incitados por esse tipo de escritos.

§ XIX. Por outro lado, no que diz respeito a coisas de pouca importância, que constituem a maior parte de alguns periódicos, os que os produzem podem ter mais licença que os historiadores, porque aqueles escrevem quase precipitadamente, não tanto para a posteridade, mas para satisfazer a curiosidade do povo, ávido de coisas novas. Para satisfazer esta curiosidade, faltam coisas de peso, e ocupam-se com coisas amenas, leves, e às vezes fúteis. Por isso, fica bem fazer aqui de certa maneira alguma concessão aos costumes do século. Júlio César, De bello gallico, livro IV, c. 5, já em outros tempos deu constância a esta curiosidade entre os gauleses: “Os gauleses, disse Júlio Cesar, têm por costume aturar os viajantes para seu próprio desagrado, e lhes fazem perguntas sobre tudo o que ouviram ou observaram das coisas que acontecem, e assim, rodeiam os viajantes e os fazem dizer de que terras vêm e de que coisas estão informados; e então, preocupados pelos rumores e pelo que ouviram dizer, normalmente tomam decisões em afazeres dos mais graves, dos quais todos normalmente hão de se arrepender por ter se fiado demais e por ter falado de todo mundo. posto que a maioria dos informadores lhes respondem com falsos elogios. Portanto, quando alguns narram coisas amenas, leves, pode suceder que estejam se acomodando ao desejo de coisas novas que também já invadiu os ânimos do povo, pode que estejam imitando Dió Cassi, que, depois de rebaixar-se a resenhar umas minúcias, logo em seguida apresentou um tipo de desculpa porque não percebeu que havia faltado por imprudência ou por incapacidade. Dado que quem conhece a superficialidade humana pode pensar sem esforço o quanto é fácil errar em todas estas coisas que ouve dos outros em uma con­versa ou em um rumor incerto. Aquelas coisas que acontecem a cada dia, muitos, induzidos pelos sentimentos ou traídos pela negligência, explicam-nas de .uma forma completamente diversa do que realmente aconteceu. Por isso, se se trata da veracidade de um fato, poder-se-á fazer uso daquela fórmula de precaução que se encontra em Curci, livro IX: “Com efeito, transcrevi mais coisas que não acredito. Dado que não posso afirmar sobre aquilo de que duvido, nem posso ocultar o que ouvi.” Agindo assim, o escritor de periódico salvaguardará a sua credibilidade, já que assim permite ao prudente leitor fazer o seu juízo. Por isso, o já mencionado Dr. Fritsch, no Discursum citado, c. IV, adverte que não se há de crer temerariamente nos periódicos.

§ XX. A forma deste tipo de relatos, se é que alguém se pergun­ta sobre isto, é vária. Porém, falando de modo geral, a forma é ba­seada na economia (oikonomía) e na expressão (léxis); porque aquilo que constitui o corpo da história (soma tés historías) freqüen­temente encontra-se em um outro lugar. A economia (oikonomía) se refere à ordem e disposição do fato histórico; a expressão (léxis) indica a maneira de dizer e o estilo adequado aos fatos. Em continu­ação direi alguma coisa de cada uma destas partes.

§ XXI. No que se refere à economia (oikonomía) e disposição, parece claro que depende da natureza do tema de que se trata. Dado que ou se resenha diversas coisas de variada índole, ou alguma coisa simples. Na recensão daquelas, a ordem é arbitrária, atestando que não há nenhuma conexão entre coisas acontecidas em lugares diversos, em tempos diferentes e de maneira variada. Por isso, é costume preservar a ordem com que os acontecimentos se apresentam. Em contra partida, quando se trata de uma coisa simples e singular, aí sim que cabe pre­servar/guardar uma ordem que enquadre ao tema. Por exemplo, se alguém quer reconstituir o sítio de Mogúncia que aconteceu no ano passado e a sua conseqüente conquista, este alguém terá que dispor tudo de sorte que primeiro fale dos seus autores, depois do motivo, em seguida dos aparelhos e instrumentos, logo em seguida do local e da maneira de agir, finalmente da ação mesma e dos acontecimentos e do valor dos valentes heróis que resplandeceu de maneira especial no sítio e na ocupação da cidade. Assim, se alguém quer preparar um relato que para ser impresso sobre a expedição à Britânia por Guillerme, príncipe de Aurênia, agora rei da Grã-Bretanha, terá que ordenar o relato do mesmo modo e com a mesma ordem. Igualmente nas outras narrações caberá ater-se àquelas circunstâncias já conhecidas que se costuma ter sempre em conta em uma ação tais como a pessoa, o objeto, a causa, o modo, o local, e o tempo. Segundo Franz Patricius, De bist. dialog., VII e VIII. Em outras coisas que não são da vida civil, o critério é, de certo modo, diferente. Porque nem todas as circunstân­cias podem ser encaixadas sempre da mesma maneira quando não houver constância suficiente da causa, ou do tempo, ou do local ou do modo pelo qual o fato foi realizado. Por enquanto é suficiente anunciar os fatos de forma superficial, segundo os rumores, sem ordem alguma. Veja Plinius, Epist., livro IV, n. 11.

§ XXII. A expressão (léxis) ou modo de dizer, ou estilo dos periódicos, não há de ser nem oratório nem poético. Porque aquele distancia o leitor desejoso de novidade; e este lhe causa confusão além de não expor as coisas com clareza suficiente. Em compensação, o narrador, se quer agradar, precisa seguir antes o fato como ele sucedeu. Veja Cicero, livro lI, De oratore. Pois bem, para este fim o narrador se faz servir uma linguagem por um lado pura, mas por outro, clara e concisa. Isto é asseverado por Cícero no seu Brutus: “Não há nada, disse, que seja tão agradável na história como a bre­vidade pura e clara.” Por isso cabe evitar as palavras obscuras e a confusão na ordem sintática. Assim também advertiu Lúcia na obra De scrib. bist.: “Que a sua palavra (a do escritor) tenha este único objetivo: mostrar os fatos claramente e torná-los compreensíveis da ma­neira mais diáfana, com palavras não obscuras e fora de uso, nem tampouco com palavras próprias dos mercados e dos botecos, de tal modo que a maioria as entenda e que os eruditos as respeitem”.(5) Não cabe analisar aqui mais coisas sobre o estilo da história, que convém empregar também nos periódicos, pois já foi falado sobre isto em um outro lugar. Veja Fabio Quintiliano, livro X, e o De art. hist. Do doutíssimo Voss. Ainda que o estilo seja áspero e bárbaro, como nas crônicas antigas, da mesma forma, a amenidade da narração é pouco ressentida. Porque, segundo Plínio, Epistulae, livro V, n. 8, “a história deleita seja qual for a maneira como tenha sido escrita. Porque os homens são curiosos por natureza e eles se sentem fascinados por qualquer conhecimento nu das coisas, de modo que se deixam até mesmo levar por erros e fábulas.

§ XXIII. A finalidade interna e própria da história é a conserva­ção do registro dos fatos acontecidos. Se não fosse pela história, as coisas acontecidas antes dos nossos tempos esvaneceriam ou seriam todas apagadas. Porque as coisas singulares são praticamente infinitas e, se não fossem registradas pela história ou nos anais, por displicên­cia ou por deficiência da memória humana seriam finalmente sepul­tadas pelo silêncio ou não poderiam ser transmitidas integralmente ã posteridade. Que aos novos relatos jornalísticos não se pode designar igualmente esta finalidade, pode ser inferido do que já dissemos acima. Pelas causas acima comentadas fica claro que os relatos jornalísticos não costumam escrever tendo em vista a posteridade senão tendo em vista a curiosidade humana. Da mesma forma, se acontece que a partir deles as coisas narradas passam também ã his­tória estritamente dita, há de se compreender que nem todos, mas somente de uns poucos, os que foram registra dos com uma certa acurácia e aplicação é que passam ã história. Porém, a maior parte deles, por ter sido escrita de forma precipitada a partir de rumores e de cartas pouco certas, não chega a superar os anos. E bem certo que não podem ser considerados entre os documentos confiáveis e podem obscurecer a memória da posteridade.

§ XXIV. Eu diria que a finalidade dos novos periódicos é mais própria para o conhecimento de coisas novas acompanhadas de um certa utilidade e atualidade. Foi por esta causa que começaram por primeiro lugar a serem escritos e divulgados os periódicos, como já insinuei acima, ao ocupar-me de suas origens. Com efeito, o afã de saber coisas novas é tão grande que cada vez que os cidadãos se encontram em encruzilhadas e nas vias públicas perguntam: “o que há de novo?” A fim de satisfazer esta curiosidade humana tem se imprimido de todo modo novos relatos jornalísticos em diversos idi­omas. E os que os lêem podem satisfazer assim a sede de novidades dos companheiros e dos grupos de amigos.

§ XXV. A esta finalidade se ajuntam a utilidade e a amenidade que costuma acompanhar estes periódicos. Já que, assim como Lúcia, De scrib. hist. Estabelece como finalidade da história a utilidade (fá chrésimon) e de outras a amenidade (tá terpnán), assim nós não erraríamos se os colocássemos como efeito e conseqüência do fim já exposto. Dado que tanto uma coisa como a outra aparece nos ânimos dos leitores quando alguém tira uma notícia de um relato jornalístico.

§ XXVI. Não afirmaria absolutamente que a utilidade dos peri­ódicos seja tão grande como a da história escrita com bom senso, dado que os autores daqueles se encontram quase desprovidos daqui­lo que é necessário para estabelecer a história estrita, com conheci­mentos dos fatos, competência, juízo elevado, documentos autênticos obtidos de arquivos não suspeitos e, finalmente, a linguagem e o estilo adequados ã história. Da mesma forma, não se pode negar que haja neles alguma utilidade que afeta a vida tanto privada como pública dos homens. A exposição de suas peculiaridades a empreen­deu faz mais de treze anos um homem preclaro, Christian Weise, no seu Schediasma curiosum no qual, assim como cabe ressaltar a genialidade de um homem tão famoso, assim mesmo acontece que o leitor curioso de periódicos preste absoluta atenção àquelas aplicações que ele assinala, sobretudo aquelas que fazem referência ao conhe­cimento da geografia, da genealogia, da história e da política. Mostra, com efeito, como a pessoa pouco versada no estudo da geografia, graças à leitura de periódicos se sente como que atraída, ou, se já não é um especialista, sente-se confirmada com um reclame perpétuo. E o mesmo pode ser afirmado quanto à genealogia. Quanto à história de nosso tempo, não há necessidade de demonstrar que a leitura de periódicos a faz especialmente precipitada, se se levar em conta seu objetivo. Finalmente, quanto à utilidade política, o insigne Weise defendeu que esta é geralmente a mais importante nos periódicos por que nesta se pode conhecer os direitos entre os príncipes, discutidos por uma e outra parte, juntamente com as deliberações, os artifícios e os costumes que são freqüentes às cortes; da mesma forma, o leitor de bom senso terá que discernir aí as coisas sem fundamentos das verdadeiras e sólidas. Porque os que crêem que ali podem ampliar um conhecimento acurado dos afazeres cívicos, estariam muito equi­vocados. Finalmente faz ver também outras utilidades para os letrados e para os iletrados, sobretudo para os comerciantes. Por tudo isso não há que acrescentar aí senão que, para se extrair estas utilidades, requer-se um conhecimento da geografia, dos negócios civis e sobre­tudo das coisas de palácio. Dado que isto são poucos os que tem a sorte de conseguir, é claro que estas utilidades não as pode explicar quem quer que seja.

§ XXVII. A amenidade dos periódicos, assim como a de toda a história, ninguém que não seja obtuso não a negará. Segundo palavras de Cícero, livro V, Ep.12 ad famil., não há nada mais apto para o deleite que as mutações dos tempos e as vicissitudes da sorte, que, apesar de não poder escolhê-las no momento de vivê-las, do mesmo modo, serão agradáveis de ler. O registro sem necessidade da dor passada é um deleite; e para os que se escaparam sem nenhuma moléstia pessoal vêem os dramas dos outros sem nenhuma dor, pois também a compaixão em si mesma é agradável. De fato, a ordem mesma dos anais não é que eles atraiam tanto, pelo que têm de sim­ples enumeração cronológica. Em troca, as situações incertas e vari­adas de uma personagem muitas vezes destacada, contêm admiração, expectativas, alegria, moléstia, esperança, temor, e se terminam com um sucesso notável, o espírito sacia-se do prazer de uma leitura al­tamente amena.” Isso acontece sobretudo na história recente dado que toca sempre o ânimo do leitor curioso e o diverte. Como disse Plínio mais acima, “os homens são curiosos por natureza e eles se deixam fascinar por qualquer conhecimento nu das coisas, de maneira que se deixam levar até erros e fábulas.” Antônio, o Panormita, disse sobre o Rei Alfonso de Aragão, em um livro sobre as suas gestas que sentiu tanto prazer em ler a história de Curci que acabou sendo curado da doença que o afetava. É dito que recuperou de uma vez a saúde e disse. “Tiau, tudo de bom para o Dr. Aviccenna, para Hipócrates, e aos outros médicos. Viva Curci, pois foi ele o meu salvador.”

§ XXVIII. É ainda maior o prazer encontrado na leitura dos periódicos pelos eruditos: aqueles que gozam do conhecimento da geografia, da genealogia e dos afazeres cívicos. Porque todo relato é mais agradável se se conhece o local, as pessoas notáveis que fo­ram autoras de um feito, ou as causas pelas quais se empenharam. Quem ignora que estas circunstâncias dos fatos sejam tiradas das partes do conhecimento mencionadas? E os que isto ignoram se assemelham àqueles que em um dado quadro observam a face das pessoas sem fixar-se na estatura e nas linhas do corpo e por fim abandonam tal quadro.

§ XXIX. Porém, tendo já uma certa idéia dos periódicos, cabe-­nos agora falar de seus variados gêneros. Dado que alguns periódicos específicos contêm coisas literárias, sua natureza, seus temas certamen­te variados e sua publicação na França, Inglaterra, Bélgica, Alemanha e Itália são coisas bastante conhecidas, eis porque os havemos de expor aqui. Alguns prometem ao leitor coisas sobretudo singulares e elegantes estampando na frente algum título certamente curioso, como são os que se escrevem em Paris e Amsterdam, Le nouveau Mereure Galant, eontenant tout ee qui s’est passé de eurieux ete. Outros se ocupam dos feitos cívicos como Histoire abregé de I ‘Eu rope, ou Relation exaete de ee qui se passe de considerable dans les Estats, dans les Al-mées, ete., como os publicados em Amsterdam por Claudius Jordanus. Outros, por sua vez, se ocupam de coisas de diversos gêneros tal como se apresentam a cada dia. Estes, impressos em diversos locais, com periodicidade semanal, ou mensal, ou até mesmo semestral, costumam ser divulgados em diversos idiomas. Entre estas publicações periódicas merecem ser destacadas as de Leipzig, em alemão, até agora curiosamente reunidas, e as de Frankfurt, em latim, impressas com o apoio econômico dos herdeiros Latomici, porque têm uma certa seleção das coisas que se explicam, prescindindo de banalidades e de coisas que escampam aqui e ali por rumores incer­tos. Porém, falar mais extensamente com o fim de dar um juízo sobre cada um deles, poderia parecer tedioso, dado que o critério da nossa investigação não permite assinalar aqui ninguém com uma censura inoportuna. Ao contrário, deixando o juízo em mãos dos seus leitores assinantes, rezem a Deus que de agora em diante, para escrever periódicos, disponham somente de temas que sejam motivo de alegria para a Alemanha e para a nossa Pátria.

Glória seja dada ao nome de Deus!

 

 

Notas

(1) Fontes usadas para a tradução: original em latim – PEUCER, Tobias. De relationibus novellis. In: KURTH, Karl Corg.). Die iiltesten Schriftenfür und wider die Zeitung Brünn: Rudolf M. Rohrer VerIag, 1944. p. 163-184; edição catalã – CASASUS GURI, ]osep Maria. Sobre eIs relats periodistics. Periodística. Barcelona: Societat Catalana de Comunicació, n. 3, p. 31-47, 1990.

(2) A capa da tese traz os seguintes dados: no alto, o titulo, De relationibus novellis; na parte central, os dizeres: sob a orientação de L. Adam Rechenberg, professor público e mag­nífico reitor da Universidade de Leipzig, em 8 de março de 1690, dissertará publicamente Tobias Peucer, de Görlitz (Lausitz); na base, a menção à tipografia de Wittigau, acompa­nhada da exclamação “Cristo Senhor seja bendito!” No sumário, o autor relaciona os seguintes tópicos: Atualidade do tema; Significado e uso do termo “novellae”; As diversas formas dos relatos históricos e as atribuídas aos periódicos; Descrição dos periódicos; Exposição de suas origens e suas causas; Expõe-se sobre a origem dos relatos históricos entre alguns povos, em especial entre os alemães: Os primeiros fundadores de periódicos e qual foi a ocasião para escrevê-Ia; Duas causas impulsoras: a curiosidade humana e o afã do lucro; Causa eficiente dos periódicos; Seu primeiro requisito (sobre o intelecto) é o conhecimento; O segundo requisito é o juízo; O juízo geralmente falta aos narradores; Sobre a vontade exige-se credibilidade e amor à verdade; O que às vezes se encontra em falta nos redatores de notícias; A matéria dos periódicos: coisas singulares que são de diversos tipos ou classes; A primeira precaução quanto à seleção de matérias; A segunda; A terceira; A curiosidade humana desculpa de certa maneira as coisas fúteis que contém; Em que se baseia a forma das reportagens; O seu primeiro aspecto é a economia (oikonomía) ou disposição; O segundo aspecto é a expressão (léxis), ou dicção que assim determina; O ser humano se interroga sobre a finalidade dos periódicos; O que é a notícia de coisas novas; Segue-se a utilidade e a atualidade; Afirmação das diversas utilidades; Explicação da atualidade; A sua delimitação; Faz-se a distinção entre os periódicos e se põe fim à dissertação. (Nota do tradutor).

(3) Ao mesmo tempo, muitos se alegravam com a “nova comunicação” de que Constantino, batizado por Silvestre, bispo da cidade de Roma, havia sido purificado da lepra etc.

(4) O padre estava na cela quando surgiu aquela notícia.

(5) O autor reproduz o texto de Lucia em grego, seguido da tradução em latim.

PEUCER, T. Os relatos jornalísticos. In: Revista Comunicação & Sociedade. Universidade Metodista de São Paulo, n. 33. São Bernardo do Campo: Umesp, 2000, p. 199-214.

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