O protagonismo na internet

A capa do livro de Juliano Spyder, que aborda pontos relevantes da web 2.0

A capa do livro de Juliano Spyder, que aborda pontos relevantes da web 2.0

Livro de Juliano Spyer (lançado em 06/09/2007) discute a web 2.0 com propriedade

Uma bela defesa da web 2.0 está à venda nas livrarias. Foi escrito por um brasileiro nascido em 1971, Juliano Spyer, e se chama Conectado – O que a internet fez com você e o que você pode fazer com ela (Jorge Zahar Editor, R$ 39,90).

Juliano me convidou para prefaciar o livro. Divido com vocês alguns trechos do texto sobre uma obra de méritos inegáveis. Um deles foi entender a importância do bate-papo na internet, embrião da mídia social, das comunidades que agora fazem o maior sucesso na rede. Outro mérito é o de explicar o quanto os provedores não deram importância, logo no início da internet comercial, para uma plataforma que era muito mais do que a possibilidade de colocar duas pessoas falando juntas sobre qualquer assunto, que já era a plataforma da interatividade que marca a web 2.0.

Nascido no Brasil, Juliano se alfabetizou em espanhol porque morou na Argentina quando o pai, o jornalista Marcos Wilson, era correspondente em Buenos Aires. Parte do curso colegial ele o fez nos Estados Unidos. Depois, estudou história na Universidade de São Paulo e ainda voltou a morar nos EUA – seu pai foi implantar um canal de comunicação latino-americano para a CBS em Miami. Em 1997, acabou contratado pela Starmedia (engolida pela bolha) onde cuidou do projeto Starmedia Eventos, uma espécie de canal de bate-papo com convidados de toda a América Latina. Em 2001 recebeu proposta ser o gerente de comunidades da America Online, empresa que ele deixou em 2003, dois anos antes de ela morrer aqui no Brasil. Convidado para desenvolver o projeto Leia Livro na secretaria de cultura do Estado de São Paulo, cuidou também do Viva São Paulo, que se ouvia na paulistana Rádio Eldorado. Agora está na TV Cultura, sempre metido com redes sociais.

Quando começou a escrever este livro, não sabia onde iria terminar. Queria encerrar um ciclo iniciado em dezembro de 97 quando foi contratado para editar o site de notícias em português da Starmedia. Também nessa época, de passagem pelo escritório da Starmedia no Brasil, viu a equipe de chat com convidados trabalhar. Foi fácil para Juliano arquitetar e implementar um chat com celebridades para o público de fala hispânica da Starmedia – coisa inexistente até então. Trabalhou com duas limitações, as diferenças de fusos horários e as diferenças culturais, uma vez que a celebridade de um país não seria necessariamente celebridade nos outros. Um mecanismo de administração dos horários foi criado e ele arrebanhou os convidados. Como gerente de comunidades da AOL em Porto Rico, Juliano viveu quinze meses no Caribe fazendo reflexões sobre sua profissão. “O que é isso que eu faço? Como é o nome dessa profissão? Como a gente anuncia isso na seção de classificados de um jornal? Qual é a relação dela com o jornalismo e em que ela se diferencia?” Ele se perguntava e a sensação era de tatear no escuro. O livro nasce deste olhar para o passado, da memória da sua experiência desde o encontro com um totem de videotexto no Shopping Eldorado, em São Paulo, no começo dos anos 80 – sua primeira e impactante experiência com a interação.

Registrou por escrito a memória de oito anos de trabalho. Tinha então uma história. Sentiu a necessidade de explicar de maneira mais técnica esse trabalho. Descreveu sua rotina, a convivência como produtor de canais, o relacionamento com arquitetos, programadores, e pessoal de negócios. Depois decidiu, porque fazia total sentido, apresentar as ferramentas de chat, de fórum, de criação compartilhada de conteúdos e todas as outras que estão no livro.

Dividido em três partes (1. Teoria e Tecnologia; 2. Prática e 3. Casos e Debates) o livro passa por todos os pontos relevantes daquilo de mais importante que a internet carrega, a possibilidade de o usuário não somente se comunicar universalmente em rede, mas também de ser capaz de gerar conteúdo próprio. Nele, o leitor vai saber muito mais do que sabe intuitivamente sobre chats, comunicadores instantâneos, fóruns, listas de discussões, blogs, ferramentas wiki, agregadores de conteúdo, folksonomia, algoritmos sociais, automoderação, cross-midia e os efeitos colaterais de uma sociedade informatizada porque, como nota Juliano, os aspectos negativos da rede sempre atraem mais atenção da mídia.

No fim, ele mesmo se pergunta se a internet é um destino e um desafio, arrola ingenuidades e monstruosidades que envolvem o debate sobre esta indústria e apela para o bom senso dos indivíduos. É um livro técnico e humanista, didático e profundo, além de obra das mais abrangentes sobre esta nova indústria.

Texto publicado no semanário Meio & Mensagem de 14/01/2008.

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