O EU é a mensagem?

MESA-REDONDA COM ROBERTO BAHIENSE, CELSO GRISI E CAIO TÚLIO COSTA PUBLICADA PELA REVISTA FIA (FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO) EM OUTUBRO DE 2007

O EU é a mensagem?

(A galáxia pós-Gutenberg – Gestão da Comunicação em debate)
Na era do acesso à comunicação ilimitada, usuários se tornam agentes ativos, mudando conceitos e normas do mundo midiático

Edição de Renato Moraes – Foto Magdalena Gutierrez

Em uma das passagens mais vivamente discutidas de A República, a da alegoria sobre a caverna, o filósofo grego Platão (428-348 a.C.) discorre sobre a relação entre o mundo visível e o mundo inteligível. “Que julgas tu que ele diria se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?”, sofisma em um dos diálogos aporéticos do Livro VII.

Na elipse do tempo, uma equação símile centra o debate sobre o atual estágio da comunicação para todos os que se arvorarem a resolvê-la. O grau varia de acordo com o olhar, assim como as certezas ou as dúvidas. Em plena era do simulacro, da espetacularização, da abrangência e da onipresença, o mundo midiático viu-se apropriado por mim, por você, por todos nós. Acertou no alvo a revista Time, que colocou no centro de sua capa de 2006 dedicada à “personalidade do ano” não um indivíduo excepcional, mas todos os indivíduos, nela ilustrados por um laptop com a palavra you ampliada ocupando toda sua tela. Abaixo, uma sucinta exposição de motivos: “Sim, você. Você é quem controla a era da informática. Bem-vindo ao seu mundo”.

I tube, you tube, we all tube. A capilaridade aumentou numa escala jamais imaginada e as conexões tornaram-se praticamente ilimitadas. Com as (info)vias de acesso à informação e à comunicação mais democráticas, não apenas se trafega e se corresponde, como se participa ativamente. Caiu na rede, é peixe, e navegar é preciso, seja fazendo do orkut um misto de encontro e palanque, seja revisando e alterando a Wikipedia. E usando o e-mail como o mais eficaz meio de mobilização, adotado como modus operandi de ações deflagradas digital e virtualmente.

Pena que George Orwell, Aldous Huxley e Marshall McLuhan não estejam presentes para testemunhar e avaliar essa redenção das massas, admirável mundo novo sem um Big Brother onipotente por trás dos meios e das mensagens. Nessa sinapse em que se formatou tal remix, estilhaçando o establishment da comunicação e do entretenimento, forçando-o a rever conceitos e estabelecer novas táticas de sobrevivência, está armada a equação. Da galáxia de Gutenberg ao espaço sideral de Tim Berners-Lee, inventor há 16 anos da world wide web (www), originalmente um meio eletrônico para que cientistas compartilhassem melhor e com mais agilidade suas pesquisas.

Difícil prever aonde vai dar tudo isso. Flechas foram atiradas para vários lados no debate que se segue a respeito da gestão de comunicação de mídia. No olho do furacão, junto com o professor-coordenador da Fundação Instituto de Administração (FIA), Celso Claudio de Hildebrand e Grisi, e o mediador do encontro, Roberto Bahiense, publisher da revista, Caio Túlio Costa, atual CEO do portal iG. Precursor do uso da internet quando a rede era um espectro rondando o mundo, Caio foi o fundador de outro portal brasileiro, UOL, o de maior acesso no país. Ex-ombudsman do jornal Folha de S.Paulo, acostumado a lidar com os mais diversos tipos de demandas e questionamentos de públicos heterogêneos, ele, de certa forma, resume os rumos deste novo tempo pervasivo, citando um especialista no assunto, o norte-americano Jeff Davis: “As pessoas querem o poder; se nós não lhes dermos, vamos perdê-las”. Uma questão de visibilidade ou de inteligibilidade?

Roberto Bahiense Há uma cena no filme Quem Somos Nós? (What the Bleep do We Know?, dirigido por Betsy Chasse, Mark Vicente e William Arntz), misto de ficção e documentário que tem como pano de fundo a questão da física quântica, que pode perfeitamente ser associada ao atual estágio do universo diversificadíssimo da comunicação de mídia e sua gestão. Nela, um grupo de aborígenes se depara com caravelas próximas ao litoral, sem contudo conseguir enxergá-las, impactado por algo inédito cuja compreensão lhe escapava. Até que no terceiro dia, depois de muito observar as marolas provocadas pelos galeões fundeados, o pajé da tribo começa a decodificá-las. Como nessa metáfora, que olhar devemos ter para buscar compreender esse cenário, se é que temos condições de entender tudo o que nele está acontecendo?

Caio Túlio Costa Realmente, acho que ainda não estamos vendo as caravelas. Estamos diante de uma nova comunicação, cada vez mais pervasiva, praticamente onipresente, que deverá nos acompanhar em todos os lugares com múltiplos artifícios e impactos diferenciados. É o que se percebe com a informação que se recebe tanto via mídias tradicionais como pelo celular, pelo computador, pela publicidade etc. Há coisas que nem se sabe ainda como serão. De qualquer forma, observa-se uma mudança fundamental na esfera pública. Se, na idade moderna, todo o processo foi conduzido e centrado numa única pessoa, como descrito por Maquiavel em O Príncipe, com o advento das revoluções sociais e democráticas, das mudanças liberais e do capitalismo, ele passa a ser administrado pelos partidos políticos, muito bem anotado pelo filósofo italiano Antonio Gramsci. Na seqüência, com a desagregação da esfera pública, do papel do Estado e da globalização, sua função passou a ser exercida pela mídia. Nada mais acontece sem ser midiatizado. Mídia entendido como um todo, do noticiário à novela; um elemento vivo, paradoxal, contraditório, com diversas faces. E baseada em conceitos não mais consistentes.

Roberto Bahiense Isso não se aplica também ao chamado interesse público e à abundância de canais de informação?

Caio Túlio Costa Certamente que sim. Conceitos moralmente sólidos e defensáveis foram virados do avesso em função dos fins a serem atingidos. Em alguns aspectos tópicos, por exemplo, veículos se utilizam de estratagemas, como câmeras ocultas, para obter seus intentos, outros não. Respeita-se ou denuncia-se a fonte em nome desse interesse público, num mundo com tamanha facilidade de busca e acesso à informação. Só que esta é cada vez mais assimétrica, provocando outro fenômeno, originado por essa absoluta onipresença da mídia, que é a dispersão. Esse individualismo que se detecta na sociedade contemporânea está intimamente entrelaçado com ela e com as correlações de forças atuais, delas se alimentando. E propiciando que, de modo assertivo, opinativo e nem sempre exato, indivíduos possam ser protagonistas da mídia, através da rede mundial da internet. Qualquer um pode criar seu site, montar seu blog, emitir sua opinião sobre o que bem entender. Este é o momento em que vivemos, o da marola. Para onde vai, o que significa de fato, não sei responder.

Roberto Bahiense Qual sua opinião sobre isso?

Celso Grisi O que tenho notado é um reflexo dessas mudanças que se instauraram na mídia. O seu consumidor é hoje um cidadão com plena consciência de que “o mercado sou eu”, com uma visão profundamente crítica em relação a ela. Isso minimizou muito a capacidade de persuasão dos profissionais de comunicação. De agente passivo, o receptor vem progressivamente se transformando num construtor da mensagem, procurando enxergar e distinguir as tais caravelas. De alguma maneira passa a ter o comando da operação, repetindo e produzindo conhecimentos, participando de um chat ou de um blog, com a legitimidade de testemunha do processo. Claro que subsiste o temor a respeito da qualidade da informação, caso da Wikipedia, cuja comparação com a Enciclopédia Britânica suscita dúvidas.

Caio Túlio Costa São produtos distintos. Enquanto a Enciclopédia Britânica é um receptáculo do saber, sistematizando e resumindo todo o conhecimento, a Wikipedia é uma obra em permanente construção, reunindo um saber em ebulição. Por causa disso, contém todos os erros decorrentes desse fator.

Celso Grisi O interessante é que deixamos de ser consumidores da Enciclopédia Britânica, mesmo que pela internet, para nos transformarmos em construtores da Wikipedia, deixando de ser assistente e passando a ser protagonista ativo dessa mídia, o que implica uma alteração de hábito e uma maior relação introspectiva com o mundo.

Roberto Bahiense Nesse novo estado, como ficam e se posicionam as mídias tradicionais?

Caio Túlio Costa Os órgãos formadores de opinião deixaram de existir em seu formato tradicional. Com a desagregação da esfera pública, o formador de opinião deixa de desempenhar um papel determinante e fundamental. Já não são os jornais dos Estados Unidos, que tradicionalmente exerciam essa função, nem os jornais e a televisão na Europa ou os jornais, as revistas e em parte as TVs no contexto brasileiro. Como é que se explica o fato de Richard Nixon, a despeito de toda a campanha da mídia contra ele no episódio de Watergate, conseguir se reeleger presidente dos EUA, ainda que depois renunciasse ao mandato? Quais seriam os argumentos que justificariam, após 18 meses de denúncias e acaloradas discussões em todos os principais veículos do país, envolvendo indícios de corrupção no núcleo do poder da Presidência da República, que em nada afetaram a confirmação de um segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva?

O fenômeno pertinente e identificável é que o eixo dos formadores de opinião pública mudou. Assim como as instituições, antes preponderantes nesse processo, não conseguem mais a mesma eficácia em seu desempenho. Hoje elas dividem com o todo do qual fazem parte a sua condução, conseqüente da clara dispersão dentro dele.

Celso Grisi A mídia tradicional, à busca de audiência, parece ignorar o fenômeno da saturação. A cobertura exacerbada de um único fato, com as repetições excessivas da mesma notícia, cansa essa audiência e desgasta seu papel de formador de opinião. Ao invés de persuadir, a mídia pode, de fato, dissuadir e, quando tenta dissuadir, pode estar persuadindo.

O público já não quer ver ou ouvir mais uma vez o mesmo conteúdo. Já não existe, nessa repetição, elemento cognitivo novo. Afetivamente o fato noticiado e suas implicações éticas e morais sofrem um imenso desgaste. Já não provoca horror, medo, indignação. Há uma banalização da mensagem, quer no seu conteúdo cognitivo, quer em seus elementos afetivos.

A mídia e suas notícias exauriram-se. O papel de formador de opinião, antes reservado a elas, exaurem-se no esforço de se impor. É o que se constatou na cobertura do noticiário no recente e trágico acidente da TAM em São Paulo. Essa saturação da mensagem produz um estado social que possibilita a assunção de novas estratégias de comunicação pelas mídias não tradicionais.

Enquanto as novas mídias parecem estar agora assumindo a função de recepcionar informações de seus protagonistas, permitir suas discussões e favorecer a criação de crenças e convicções. Nesse sentido, todo o processo informacional transformou-se em algo mais espontâneo e consensual. Vivemos um estágio em que pouco controle se tem sobre a produção de informações e seus impactos e efeitos sobre a população e seus mercados.

Roberto Bahiense Baseado em sua experiência, você concorda que as novas mídias ainda se encontram numa fase embrionária, dominada por ensaios e experimentações?

Caio Túlio Costa Dois importantes acontecimentos recentes dão bem a medida do desenho e do lugar já garantido a essas novas mídias, ainda que elas possam parecer as caravelas diante dos nativos no filme mencionado. Um deles é o atentado em Madri levado a cabo em março de 2005, cujas explosões foram acionadas através de um aparelho de telefone celular. Imediatamente, o governo espanhol, sob o comando do conservador primeiro-ministro José Luis Zapatero, atribuiu a autoria ao grupo basco ETA (Euzadi Ta Azkatasuna), divulgado por toda a mídia do país. Até que uma emissora de rádio do grupo do jornal El País contestou a informação, apresentando indícios de que a ação teria sido obra do grupo terrorista Al-Qaeda, responsável pela explosão das Torres Gêmeas (World Trade Center), em Nova York. Disseminada em larga escala por celulares, e-mails e instant messengers, desacreditou-se a cúpula dirigente que, no fim de semana seguinte, sentiu na pele as conseqüências, derrotada numa eleição cuja vitória era tida como certa. No Brasil, houve aquela segunda-feira em maio de 2006, quando a população, ameaçada pelos seguidos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), atendeu a um toque de recolher que ninguém sabia a origem e que se propagou da mesma forma. As empresas dispensaram seus funcionários, as escolas interromperam as aulas, o comércio fechou as portas, a cidade anoiteceu com suas ruas vazias, quando, finalmente, as autoridades vieram a se manifestar.

Roberto Bahiense Não há como deixar de se preocupar com um possível comprometimento da seletividade de opinião diante do bombardeio das mídias para não reviver o acontecido durante a célebre transmissão radiofônica de A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, feita por Orson Welles, quando ouvintes se desesperaram.

Caio Túlio Costa Ela está exacerbada. Assiste-se, hoje, a uma concentração brutal dos meios de comunicação por seis grandes empresas transnacionais. NBC Universal, Disney, Time Warner, Viacom, Sony e News Corporation detêm 48% do faturamento das corporações de mídia do planeta. Tal concentração necessita de dispersão que se reflete diretamente no jornalismo exclamativo da nova mídia, influenciando inclusive a mídia tradicional, cada vez mais inexata.

Roberto Bahiense O grande risco, além da concentração, não se encontra no projeto desses grupos de criarem um amálgama entre mídia e entretenimento? Que posição se poderia tomar diante dessa anabolização e da perda de importância dos conteúdos oferecidos pela mídia?

Caio Túlio Costa É esse fenômeno da espetacularização que dá o tom da cena atual. Embora isso não elimine as necessidades de hierarquização e escolha que fazem parte do ofício da comunicação, só que agora dominada pelas citadas assimetria e dispersão. A rede de internet já representa a segunda mídia de massa no país, abrangendo um universo de cerca de 40 milhões de pessoas, um número bastante relevante ainda que relativamente pequeno diante de uma população de 190 milhões de pessoas. E que dela fazem uso de forma assertiva. Citando certa vez um especialista no assunto, Jeff Davis, o magnata das comunicações Rupert Murdoch declarou que “as pessoas querem o poder; se nós não lhes dermos, vamos perdê-las”. Esse mecanismo centrado na auto-informação é a razão de ser das novas mídias e o marco de uma grande mudança.

Celso Grisi Se esses fenômenos sobre os quais estamos discutindo são as caravelas dos próximos anos, imagine o cenário após a implantação da TV interativa. Aí sim muda-se radicalmente a forma de gerir a mídia e de aferi-la. Dentro dessa tendência de segmentação sem limites, passaremos a conviver com grandes plataformas de informações em nível mundial, sob um forte crivo analítico. A posse do conhecimento por si só deixará de ser um diferencial. Será preciso saber utilizá-lo, organizá-lo e disponibilizá-lo, transferindo para a mídia uma nova missão.

Caio Túlio Costa Na verdade, o surgimento da televisão interativa já deparará com um cenário de gente plenamente enfronhada com a interação que a internet oferece. O grande chamariz que ela deverá proporcionar será a possibilidade da convergência de todas as mídias, permitindo ao usuário uma utilização similar à dos atuais e-mails. Quanto à mudança de paradigma da mídia, ela efetivamente tornou-se refém dessa assimetria, deixando de ser o protagonista principal nessa nova formatação da esfera da opinião pública, sem deixar, no entanto, de manter sua importância dentro dela.

Roberto Bahíense Como é que se processará a digestão da informação nesse ambiente hiper-segmentado da comunicação?

Celso Grísí Provavelmente, essa nova sistematização do conhecimento se distribuirá pelos múltiplos segmentos da sociedade, com uma preocupação óbvia de alcançar as mais diversas comunidades, uma espécie de one-to-one a ser feito com a informação. Uma especialização à base da customização, com a efetiva contribuição para as ciências sociais práticas. E, num sentido contrário ao esforço globalizante, buscando resgatar identidades próprias, reestruturando e compondo novos valores da vida coletiva. Caberá à mídia atender a essas demandas, numa relação harmônica entre o global e o local. Algo assim como a convivência entre a moda de viola e a música eterna dos Beatles.

Roberto Bahíense Numa reflexão sobre o instante atual e de uma confessa perplexidade diante desse universo multifacetado da comunicação de mídia, como tem se operado a sua gestão?

Caío Túlío Costa No campo da rede internet, a gestão gira na órbita de todo o poder para o usuário. Ainda que convivendo com conteúdos tradicionais de informação e entretenimento, os internautas participam ativamente da produção dos conteúdos, parte fundamental da estratégia conceitual. Sem que os instrumentos legados pelo ofício da comunicação tenham sido renegados ou escanteados. Apenas acompanham essa nova ordem mundial, lidando com o contraditório e a velocidade extraordinária da sucessão de mudanças na área, o que requer grande agilidade e flexibilidade dos que com ela lidam. Mas, seguramente, muito diferente do contexto que imperava até alguns anos atrás.

Roberto Bahíense Dentro dessa nova ordem, o que sobreviverá?

Caío Túlío Costa Acredito que tudo se perpetuará, independentemente da forma. Pode-se discutir o suporte futuro para o livro, a mudança dos padrões de jornais e revistas, a sobreposição de mídias etc. Só que não se pode resumir à simples transposição de conteúdos tradicionais para um novo veículo como a internet, no máximo acrescentando o complemento da entrevista para a qual não houve espaço suficiente ou a pesquisa que não foi publicada. Por trás de um meio interativo, existe uma infinidade de coisas e usos. Conforme já foi dito, em função de suas características, a internet é a mãe de todas as mídias, exigindo um correto entendimento para dela extrair a máxima eficácia de suas potencialidades.

Celso Grisi Do ponto de vista acadêmico, seus integrantes devem, obrigatoriamente, ser pessoas preparadas para conviver com essas dúvidas, os questionamentos e as evoluções. Não devem ter a resposta, e sim a correta formulação do problema. Claro que, ao reformulá-la de modo adequado, responde em parte à questão. Em matéria de comunicação, é preciso se fazer a intersecção da capacidade analítica com a tecnologia da informação que permitirão estruturar um pensamento teórico. E, sobretudo, apoiar-se na qualidade dos dados que precisam ser validados, e não apenas capturados na internet ou em outra fonte qualquer. É da interpretação calcada numa recorrência lógica aos pressupostos teóricos já existentes que se esboçarão as estratégias gerenciais. Afinal, a comunicação é um fenômeno essencialmente social. Ela existe em razão direta da sociedade e para ela. Isso faz com que não possa ser entendida como um elemento físico. Seu grande dilema é ético: para quem essa mensagem foi produzida? Quais as suas conseqüências? A quem beneficia ou prejudica? Este seu momento de inovação permite um estimulante aprendizado.

Caio Túlio Costa O filósofo alemão Jürgen Habermas resume a questão numa afirmação, a de que “os intelectuais estão atônitos”.

Celso Grisi Acho muito saudável estar atônito. Mais até, considero isso absolutamente indispensável. Deve-se manter esse estado de angústia em relação ao conhecimento e de perplexidade diante dos fatos, visto que ele desencadeia o processo investigativo.

Roberto Bahiense Mudou o modelo de gestão da comunicação?

Caio Túlio Costa Em face da emergência das novas mídias, as margens se reduziram bastante, em todos os sentidos, para os meios midiáticos tradicionais. Isso obrigou-os à mudança no modelo de administração, facilmente perceptível no jornalismo brasileiro, embora aqui implicando um empobrecimento generalizado na qualidade dos produtos. Em relação às novas mídias, o mercado ainda não compreendeu o seu lugar social, o que as têm impedido de investir e ampliar seu espaço com maior solidez e consistência. E, quanto à indústria da mídia como um todo, é visível que a profissionalização substituiu de vez o modelo convencional de empresa familiar, com mais contras do que prós, por incrível que possa parecer.

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