The Guardian: lição de jornalismo aberto

PUBLICADO NO SITE DA PROXXIMA 2012 EM 09/05/2012 ÀS 12:32

Executivo da área Digital do jornal britânico, Piers Jones mostrou à plateia do ProXXIma que abrir as portas para os leitores pode ser o segredo do sucesso para os veículos

BÁRBARA SACCHITIELLO

Digital first. Essas palavras, ditas logo no início do seminário de Piers Jones, gerente de produtos para plataformas digitais e redes sociais do The Guardian, deram uma síntese do que o público da edição de 2012 do ProXXima pode acompanhar: um exemplo concreto de um jornal que, apesar de sua tradição de mais um centenário de existência, não teve medo de inovar de acordo com o ritmo das novas tecnologias e forma de consumo de mídia.

Com a presença do jornalista, sócio da MVL Comunicação, Caio Tulio Costa, o seminário de Piers Jones foi uma apresentação das estratégias do The Guardian para manter o interesse e a atenção do público, em diferentes plataformas. O representante do veiculo inglês deixou claro que todo esse exemplo de inovação reside, primeiramente, na premissa de se tratar o digital como prioridade. “Quando recebemos uma noticia ou informação importante, não existe mais a duvida de coloca-la na internet ou de guarda-la para o papel. O Digital sempre vem à frente”, resume Jones.

Ele aproveitou o seminário para expor exemplos dos produtos digitais do jornal, como o site, os aplicativos para smartphones e tablets e os perfis do título nas redes sociais. O destaque dessa parte da apresentação foi o aplicativo do The Guardian para o Facebook, que foi desenvolvido após dois meses de trabalho, com o objetivo de criar uma maneira diferente de dar as noticias e entrar em contato com a audiência. Desde setembro de 2011, quando foi lançado, o aplicativo já foi baixado por mais de 11 milhões de pessoas.

Os leitores, alias, são tratados praticamente como colaboradores diretos dos jornalistas do The Guardian. Com enquetes, sugestão de noticias, discussão de assuntos, compartilhamento de informações, participação em eventos promovidos pelo jornal e outros canais de contato, os leitores são, constantemente, estimulados a participar e a colaborar com o conteúdo do grupo de mídia. “Nosso objetivo é fazer com que as pessoas passem mais tempo conosco. Esse crescimento da audiência, consequentemente, nos dá uma maior base para trabalhar comercialmente nossos produtos e conseguir gerar receita”, esclarece Jones.

Cabeça no futuro

Exemplo de publicação que segue na trilha do fornecimento gratuito de conteúdo – financiado pela publicidade – o The Guardian acaba indo na contra-mão de boa parte dos grandes jornais do mundo, que vêm estruturando seu modelo de negócios com base na cobrança pelo acesso ao conteúdo digital. Esse posicionamento do jornal britânico, segundo o jornalista Caio Tulio Costa, é um exemplo claro de que o The Guardian conseguiu enxergar algo que muitos veículos ainda relutam a ver: “O jornalista não é mais o ator principal da notícia. Ele precisa dividir esse palco com os leitores, que colaboram diretamente com o conteúdo”, frisou Costa.

Questionado sobre a aparente contradição entre priorizar o Digital enquanto a maior parte de sua receita publicitária ainda provem do jornal impresso, Piers Jones respondeu representando a filosofia de um título que, mesmo nascido em 1821, tem os dois pés e a cabeça no futuro: “Priorizar o Digital nada mais é do que reconhecer a mudança estrutural. O impresso ainda pode ser a maior fonte de receita, mas isso não será para sempre. Não sabemos se estamos construindo um modelo correto. Considerando, porém, a rápida evolução da tecnologia e dos leitores, acredito que vale a pena arriscar”, finalizou.

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